O primeiro emprego do ex-governador José Richa
A carreira política de José Richa começou em 1962, quando se elegeu deputado federal. Após o Golpe Militar de 1964, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), tendo sido um de seus fundadores. Nas eleições de 1982, Richa foi eleito governador do Paraná. Em 1986, afastou-se do governo paranaense para candidatar-se a uma vaga no Senado Federal. Eleito pela segunda vez, deixou o PMDB, em 1988, para ser um dos fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). José Richa morreu em 2003 e o seu filho, Beto Richa, governa o Paraná, depois de ter sido prefeito de Curitiba. Leia o trecho da entrevista que vai estar na íntegra na coleção de livros “Memória Paranaense”. A gravação foi em maio de 1988.
José Wille – Com a dificuldade enfrentada por seu pai, começou o seu trabalho como jornalista?
José Richa – Exato. A minha mãe ficou doente, o meu pai tinha poucos recursos e gastou o que tinha e o que não tinha com a doença dela nesse período. Eu, que estava em Curitiba e não sabia de nada, ainda recebia uma pequena mesada dele, só para me dedicar aos estudos. Acabei tendo de trabalhar para terminar o meu curso. Fui para o “Diário do Paraná”, recém-criado aqui no Paraná e que era um dos órgãos do Diários Associados. Graças a isso, consegui me formar. O diretor na época era Adherbal Stresser, uma figura muito respeitada nos meios jornalísticos do Paraná. O secretário era o Ayrton Batista, que, até há bem pouco tempo, era o presidente da Associação dos Jornalistas e havia sido professor – deve estar aposentado já. E o Luiz Geraldo Mazza, que era do mesmo jeito que é hoje, foi meu chefe de reportagem, uma grande figura, inteligente, perspicaz, um grande jornalista. E foi graças a ele que consegui me manter no emprego, porque eu não entendia bulhufas daquilo, pois vinha da zona rural para Curitiba. Para poder terminar o meu curso superior, eu precisei trabalhar e, como tinha aula o dia inteiro, nos mais variados horários, não conseguia arrumar emprego fixo. O jornal me possibilitou isso, porque, nos intervalos de aula, eu ia à caça de notícias já com a pauta previamente feita pelo Mazza.
José Wille – O interesse pela política estudantil surgiu nessa mesma época?
José Richa – Uns colegas do curso de Odontologia brigavam pela emancipação, pois nós tínhamos uma faculdade de Medicina com os cursos de Medicina, Odontologia e Farmácia. E inventavam os mais variados métodos de luta para que isso acontecesse. Um deles foi lutar na política estadual, ganhar posições, para facilitar a emancipação da nossa faculdade. Quando trabalhava no “Diário do Paraná”, eles apareceram com a proposta de me candidatar a secretário da União Paranaense dos Estudantes. Aí, já com a responsabilidade de dirigir a entidade, nós tínhamos os congressos nacionais dos estudantes, as reuniões dos conselhos da UNE… Ao pedir favores à Prefeitura, ao governo do estado, conheci o Ney e acabamos nos aproximando e fizemos amizade. Ele representou, naquela época, a renovação da política do Paraná e, então, nós estudantes resolvemos segui-lo. Eu ainda estava no curso de Odontologia, vencia meu mandato na UPE, em 1959, e ele me convidou para trabalhar com ele. Trabalhava durante o dia como estagiário no departamento médico da Prefeitura e, nas horas vagas, final de semana, à noite, ajudava a montar a campanha dele para deputado federal, em 1958. A campanha era para deputado em 1958 e para governador em 1960. Então, ele se elegeu em 1960, foi para o governo e eu fui para o gabinete dele, como oficial de gabinete, mas, na verdade, exercia um cargo criado posteriormente – subchefe da Casa Civil. A partir daí, dentro do governo, eu era o responsável pelo atendimento ao interior e me lançaram como candidato a deputado federal em 1962, à minha revelia. Só aceitei depois que já tinha cartaz, já estavam fazendo a campanha há algum tempo. E fui o quarto mais votado do estado.
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