O homem que não podia morrer
O professor Belmiro Valverde morreu em 2014. Este foi o texto da época, neste portal, que relembramos hoje.
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A última participação de Belmiro Valverde na TV. Clique aqui.
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Para conhecer a escola para crianças carentes que ele construiu clique aqui.i
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Belmiro Valverde era o homem que não podia morrer, principalmente para 280 crianças carentes, que o cercavam alegres, quando ele chegava ao Centro João Paulo Segundo. E que ele conhecia pelos nomes, e tratava como filhos, com toda a atenção e carinho. Com a ajuda da esposa Elisabete, criou uma escola de primeira qualidade para dar oportunidade a quem dificilmente teria algum futuro.
A escola gratuita foi mantida com a ajuda de algumas empresas e voluntários. E para ele o projeto representava apenas uma semente: Com a escola, Belmiro esperava provar existir a possibilidade de serem criadas muitas outras, no mesmo modelo, pelo Brasil afora. E dentro dessa visão, de responsabilidade social, a ideia central era ajudar a transformar o País, a partir de iniciativas da própria comunidade.
Na ultima vez em que fui visitá-lo, sua maior preocupação era com a manutenção da escola. Falava da facilidade com que muita gente abastada gastava dinheiro com futilidades, em Curitiba. Mas como era difícil sensibilizar e conseguir um mínimo apoio, destas mesmas pessoas, para dar oportunidade às crianças carentes.
Para ele, o passo seguinte seria adotar o ensino à distância, já naquela época, criando um núcleo na escola, para produzir e oferecer gratuitamente material didático em vídeo pela internet para o ensino básico do Brasil. Esta iniciativa estava sendo finalizada, mas Belmiro morreu antes.
Se algo pode ainda ser feito em solidariedade ao esforço do professor Belmiro, o caminho agora é apoiar a esposa dele, Elisabete, em sua missão de manter viva a primeira escola modelo, e com ela a esperança de um melhor futuro para as suas crianças. E um modelo de ensino fundamental para o Brasil.
Por sua inteligência e caráter, Belmiro Valverde tinha o perfil ideal para governar o Paraná, ou para qualquer outra posição pública de importância. Mas ele mesmo dizia, com sinceridade, que nunca seria eleito, porque iria dizer a verdade nas campanhas, e não aquilo que todos gostariam de ouvir. Não acreditava em demagogia e populismo. Pelo mesmo motivo não aceitou se candidatar a reitor da UFPR, quando foi procurado. Também, por seu bom caráter, Belmiro perdeu o cargo de secretário de governo, em 1982, justamente por cumprir seu dever, denunciando irregularidades.
Em trinta anos de jornalismo, não tive oportunidade de conhecer uma visão mais ampla sobre o Paraná e o Brasil, que a de Belmiro Valverde. E isso ficava evidente em suas análises, aulas, livros, artigos e comentários no rádio e televisão. E além desta percepção da realidade, e dos caminhos para o futuro, Belmiro tinha também uma grande coração e humildade: Um homem bom e amigo dos amigos, no verdadeiro sentido. E com uma real visão humanitária. Mais que tudo, Belmiro foi um autêntico professor.
Morrer é inevitável, mas temos agora a sensação de que perdemos uma pessoa raríssima, e verdadeiramente insubstituível: Belmiro Valverde realmente não podia morrer.
José Wille
29 de março de 2014
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Belmiro Valverde mostra a placa com os apoiadores de sua escola.
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