Memória da Comunicação

O escritor Wilson Martins e o rádio curitibano dos anos 1940.

Nesta entrevista Wilson Martins contou como era o rádio dos anos 40 em Curitiba. A entrevista integral está na coleção de livros “Memória Paranense”. Wilson Martins foi autor de obras como “História da Inteligência Brasileira”; “A Ideia Modernista”, “Crítica Literária no Brasil”, “Um Brasil Diferente” e “A Palavra Escrita”, entre outros. Foi durante 25 anos crítico literário de O Estado de São Paulo e também do Jornal do Brasil. Foi ainda colunista da Gazeta do Povo e de O Globo. 

José Wille – Na década de 40, o senhor trabalhou na Rádio Clube Paranaense, uma rádio que, naquela época, estava numa fase pioneira.  

Wilson Martins – A Clube Paranaense era uma estação importante por vários motivos. Em primeiro lugar, porque era a única estação de rádio na cidade, único meio importante de comunicação e de artes – não havia televisão, não havia outras estações – e eu, por acaso, regressando de Ponta Grossa, tive a oportunidade de ser contratado como locutor da PRB2 e lá trabalhei durante três anos. A estação vivia uma época muito boa, porque coincidia com a existência do Cassino Ahú, aqui em Curitiba, que contratava grandes orquestras nacionais e internacionais, cantores importantes, programas artísticos… Havia um convênio, então, entre a PRB2 e o Cassino Ahú para a retransmissão e para um programa, digamos, conjugado ou com o conjunto dessas exibições artísticas. 

José Wille – O senhor esteve lá muitas vezes como locutor, acompanhando essas apresentações no Cassino Ahú? 

Wilson Martins – Lá e também em outros lugares e no próprio estúdio, porque havia programas diretamente irradiados do estúdio, com orquestras argentinas, brasileiras, cantores famosíssimos na época, como Orlando Silva, Francisco Alves e outros dessa natureza; havia orquestras nacionais também, conjuntos regionais, como o Trio de Ouro, por exemplo, a Dalva de Oliveira, de forma que havia realmente uma vida artística muito importante aqui promovida pelo Cassino Ahú e pela PRB2 conjuntamente. Havia, também, programas de estúdio nos horários noturnos e programas de discos gravados durante o dia, além das transmissões esportivas dos fins de semana. 

José Wille – Tinha espaço na programação para os grupos musicais da própria cidade. 

Wilson Martins – Muito. Havia muitos grupos regionais. Dois ou três deles eram praticamente permanentes na estação e tomavam parte regularmente nos programas noturnos. 

José Wille – O senhor acompanhou diversos acontecimentos que tiveram a cobertura ao vivo da emissora. Como eram essas transmissões? 

Wilson Martins – Havia cerimônias cívicas, que eram feitas exteriormente. Então, eu era destacado para fazer estas transmissões. E havia outros acontecimentos dessa natureza. Eu só não pude participar, de fato, de nenhum programa esportivo, por causa da minha incompetência. Nunca consegui realmente entender um jogo de futebol, apesar de me explicarem que era muito fácil, que cada jogador tinha sua posição. Mas, quando começava o jogo, todos saíam das suas posições e eu ficava completamente perdido na transmissão… Mas fiz vários programas interessantes, um deles de que recordo muito até hoje foi quando passou aqui em Curitiba um filme chamado “Mogli – O Menino Lobo”, tirado de um livro inglês. Não sei por que motivo a PRB2 contratou a transmissão desse filme diretamente da cabine do Cine Luz. Fui transferido para lá e, enquanto passava o filme no cinema numa sessão normal, eu o descrevia para os ouvintes da PRB2. Em outras palavras, eles recebiam a descrição oral sem ver a imagem.

 

 

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