Memória

Registros históricos provam que a Universidade Federal do Paraná é a mais antiga do Brasil

 

A história da UFPR, Universidade Federal do Paraná, foi relembrada pela professora Cecília Westphalen. Em uma entrevista publicada na série de livros “Memória Paranaense”, a professora explicou porque a UFPR é a mais antiga universidade do Brasil, um fato desconhecido por muitos.

Leia um trecho desta entrevista que foi gravada em 1997.

 

José Wille – A senhora passou 50 anos de sua vida trabalhando nauniversidade, acompanhando parte da história, no momento em que houve a reestruturação e a federalização.

Professora Cecília – Certa feita, já escrevi e repito hoje: a Universidade do Paraná foi e é a criação mais importante dos paranaenses. A universidade forneceu para a civilização paranaense, para a cultura paranaense, para o desenvolvimento do Paraná, os quadros superiores de que o estado necessitava.

E não só o Paraná; muita gente veio de outros estados, até mesmo longínquos. Eu mesma tive alunos do Pará, do Amazonas, do Piauí, para não falar de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. A Universidade Federal do Paraná constitui a mais legítima contribuição que os paranaenses criaram, mantiveram e mantêm. E, oxalá, meu Deus, continuem a manter!

José Wille – Que condições existiam em 1912 para que o Paraná tivesse a criação de sua universidade?

Professora Cecília – O Victor Ferreira do Amaral, que foi o criador da universidade, quando ia aos líderes políticos do Paraná – e ele era um deles nessa ocasião – dizia-lhes que vissem o exército de paranaenses que desejavam elevar o seu nível educacional, mas que não tinham condições para estudar em São Paulo, estudar no Rio, em Recife. Também era um momento em que a conjuntura era propícia, não somente pela legislação de ensino, que permitia a criação de estabelecimentos de ensino superior, mas porque a conjuntura também era favorável, pois havia, primeiro, o interesse e o apoio do governo do estado e, segundo, a ansiedade dos paranaenses pela afirmação da sua identidade. Acho que foi muito importante, para os paranaenses, a criação da universidade, inclusive em face dos problemas dos contestados – não somente o contestado em relação à Santa Catarina, mas também em relação a São Paulo.

José Wille – Politicamente, para a formação de lideranças e a afirmação do estado, era fundamental, naquele momento, a criação da universidade. Professora Cecília – Exatamente.

José Wille – Por que a universidade tem esse título – a mais antiga do Brasil? Professora Cecília – Tenho ensinado tanto, mas não me canso de ensinar. É meu dever, como historiadora, como universitária paranaense. O ensino superior no Brasil foi muito tempestuoso. Não preciso fazer a história do ensino superior desde as negativas da metrópole em autorizar a presença do ensino superior, embora em muitos conventos, em muitos mosteiros, em muitos colégios, houvesse um ensino de nível superior, mas universidade, não.

Embora houvesse ensino superior desde a criação dos cursos jurídicos no Brasil, desde as tentativas todas de outros cursos, como o de Medicina e o de Farmácia – meu avô mesmo, falei disso há pouco, foi o primeiro farmacêutico formado na Faculdade de Farmácia do Rio de Janeiro. Embora houvesse todos esses percalços na conjuntura do início do século, a legislação permitia a criação livre de cursos superiores e até mesmo de universidades.

Aí, reuniram-se os paranaenses, um grupo aqui, um grupo ali, e criaram, instalaram e colocaram em funcionamento a Universidade Federal do Paraná, que nunca mais deixou de funcionar, até hoje. Não vamos falar naquelas tentativas do Amazonas, da própria São Bento, de São Paulo, não é? A nossa universidade pode não ter sido, no papel, a primeira a ser criada, mas foi, no papel, a primeira criada, instalada e em permanente funcionamento. A Universidade Federal do Paraná é a mais antiga do Brasil.

José Wille – Mesmo nos períodos em que houve a divisão e, mais tarde, a reestruturação, sempre se manteve funcionando?

Professora Cecília – A universidade apresenta três primeiros grandes momentos. O primeiro foi este, o da criação. Depois, em face da lei, ela teve que ser desmembrada em faculdades isoladas para que seus cursos pudessem ser reconhecidos, mas nunca a universidade retirou do seu frontão “Universidade do Paraná”.

E o dr. Victor Ferreira do Amaral continuou a ser o diretor de todos as faculdades isoladas, pois não houve sequer desmembramento administrativo. E me recordo, pois isso me foi dito por ele mesmo, que o próprio professor Pedro Calmon, que tinha ligações com familiares em Curitiba, apiedava-se muito dos paranaenses, pois passava na Praça Santos Andrade e via lá a Universidade do Paraná, e não existia a Universidade do Paraná.

Assim, quando da redemocratização do país, em 1946, foi política do governo federal a criação de universidades. E Pedro Calmon foi, justamente, o encarregado de realizar esta política e foi um dos batalhadores da restauração. Então, não criamos a universidade em 1946, restauramos a universidade que já existia. Depois, em final de 1950, ela foi federalizada.

São os três grandes momentos da história da universidade: a criação, a restauração e a federalização. Acrescento um quarto grande momento, a meu ver, para a história da universidade, que é a conjuntura da criação, instalação e funcionamento dos cursos de pós-graduação, que deu nova vida, novo alento e, sobretudo, desenvolveu mais intensamente a pesquisa científica na universidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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