Memória

A derrota de Túlio Vargas para José Richa disputando o senado em 1978

 

 

O ex-deputado federal Túlio Vargas analisa, nesta entrevista, a sua derrota para José Richa na eleição de 1978. A gravação é de setembro de 1997, para a coleção de livros “Memória Paranense”.

Túlio Vargas graduou-se pela Faculdade de Direito da UFPR em 1954. Depois de formado, mudou-se para Maringá, onde se elegeu deputado estadual em 1961, reelegendo-se a seguir. Em 1970, elegeu-se para a Câmara dos Deputados, em Brasília. Em 1974, foi nomeado secretário de estado de Justiça, no governo Canet Júnior, e, posteriormente, nos governos de Ney Braga e Hosken de Novaes. Também atuou como jurista, historiador e escritor.

 

 José Wille – Em 1978, o senhor foi o mais votado para o Senado, mas não levou a vaga.

Túlio Vargas – Não creio que fosse só pela sublegenda, foi pelo desgaste do governo federal. O processo revolucionário estava já moribundo e a opinião pública estava totalmente favorável à mudança do regime e à mudança, inclusive, das regras do jogo. O surgimento da sublegenda foi um estratagema do governo, no sentido de acomodar as forças divergentes dentro de seu próprio sistema.

José Wille – Era a Arena 1 e a Arena 2, possibilitando que dois grupos estivessem com o governo, mas em disputa entre eles, na mesma região.

Túlio Vargas – Exatamente. E o que aconteceu, por exemplo, no Paraná: o governo, mesmo ganhando a eleição, teve o seu candidato, que era eu, não sendo eleito. Nos outros estados, aconteceu o contrário. O candidato da oposição foi o mais votado, mas, na soma, ganharam os candidatos do governo. Isso aconteceu, por exemplo, em Pernambuco. Mas aqui havia um fato que pesava bastante no resultado da eleição: o prestígio do governador Jayme Canet Júnior. Salvo Ney Braga, não me lembro de nenhum governador que tivesse, ao final de seu governo, um potencial de credibilidade e de prestígio como Jayme Canet Júnior. Ele emprestou à sua administração um estilo empresarial. Ele governou como um empresário, sem aqueles vícios que são próprios dos políticos. Então, a eleição para o Senado tinha uma possibilidade de vitória, embora soubéssemos dos riscos que representava uma candidatura contra duas da oposição. E, evidentemente, a diferença foi tão pequena que justifica o fato de ter sido apenas uma candidatura, porque, dentro do próprio sistema, duas candidaturas praticamente não funcionavam. É um engano dizer “Tinha que sair mais um!”. Quem era do governo iria votar no candidato do governo e quem era contra iria votar na oposição. Então, o fato que até hoje se comenta: foi um erro estratégico, um erro crasso não ter lançado mais um candidato, pois, com isso, teriam ganho a eleição. Eu acho que foi um erro de cálculo. Agora, a diferença foi tão pequena que valeu a pena o risco de tentar a vitória.

José Wille – Na soma dos votos de Enéas Faria e José Richa, o Richa, que tinha mais votos pela oposição, acabou indo para o Senado.

Túlio Vargas – O Richa, em números globais, deve ter feito 800 mil votos. Eu fiz 1 milhão e 300 mil e o Enéas não lembro quanto fez, mas a diferença foi mínima, de 50 mil votos. De qualquer forma, aquilo mudou a história política do Paraná. Não guardei nenhum ressentimento, nenhuma decepção, porque, afinal de contas, perdi para um candidato de fôlego, que tinha muita força na oposição, que tinha uma tradição política, um homem de bem, como realmente é o ex-deputado e ex-governador José Richa.

 

 

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