Fatos Históricos

Paulo Grani relembra a história do Tiro de Guerra Rio Branco

Colaboração histórica redigida por Paulo Grani
Os Tiros de Guerra foram criados no Brasil em 05/09/1906, pelo Marechal Hermes da Fonseca, ministro da Guerra no governo de Afonso Pena. O TG nº 1 em Rio Grande-RS; o TG nº 2 em Santos-SP; o TG nº 3 em São Paulo-SP; o TG nº 4 em Porto Alegre-RS e, assim por diante, chegando a 226 agremiações Brasil afora. Os Tiros de Guerra eram escolas de instrução militar na qual o indivíduo obtinha o certificado de reservista do exercito, sem servir nos regimentos ou corpos de linha.
Em Curitiba, naquela ocasião, várias sociedades de tiro já existiam desde meados dos anos 1800, visto a tradição de caça trazida pelos imigrantes europeus que estavam colonizando a cidade, principalmente as sociedades formadas por descendentes de alemães que tinham o hábito da caça e estimulavam seus jovens nessa tradição, em cujos locais, além da prática, havia também ensinamentos das técnicas da arte de atirar.
Em decorrência da normatização dos Tiros de Guerra, em Curitiba foi criada em 25/07/1909 a Sociedade de Tiro Rio Branco, pelo 1° Tenente João Gualberto de Sá filho, tendo o 2° Tenente Plínio Tourinho como diretor de tiro, ela foi instalada no barracão do Central Park, de propriedade dos irmãos Taborda, onde antes funcionou o Cinema América, no terreno onde hoje é a sede do Banco do Brasil, de frente à Praça Tiradentes, cuja entrada era pela Rua Alegre (atual Rua Cândido de Leão), um local nobre e central da cidade. A sede social tinha boas instalações para quase todos os exercícios militares necessários para a formação dos reservistas. O Tiro Rio Branco funcionou ali até abril de 1913.

O Brasil passava por uma militarização social e Curitiba era um centro marcado pela presença expressiva de imigrantes europeus cujos filhos e netos estavam chegando à idade de “Servir à Pátria”, uma prática assimilada por várias gerações desde suas origens européias. A possibilidade de conseguir a sua “Carteira de Reservista” sem abdicar das suas atividades profissionais, pois o Tiro de Guerra não exigia internamento, fez com que a moçada aderisse ao programa do TG entusiasmada.

 

Ali, na Rua Alegre, João Gualberto instalou a sede social do Tiro Rio Branco e uma “Linha de Tiro”, Inaugurada em 07/09/1909. O barracão em formato retangular, tinha em uma de suas extremidades o pára-balas: “A Linha de tiro reduzido da sociedade de Tiro Rio Branco, e que hoje foi inaugurado tem um – stand – de madeira com 16 metros quadrados de superficie, em forma de chalet, com 2 postes de tiro, e o seu comprimento é de 30 metros. A largura da linha é de 4 metros podendo ser collocados 4 alvos, a 15, 20, 25 e 30 metros. Estes alvos são todos rotativos e circulares concêntricos nº 3, conforme modelo do Tiro Nacional.
O leito da linha é arenoso e todo plano. Literalmente a linha é fechada por paredes duplas de madeira, de altura crescente, desde 2m20 até 5m. A linha tem um para-balas a 15m com 6m de altura, fechando ao alto o leito em toda a largura, a um outro para-balas terminal de alvenaria de tijolo, que será revestido. Os abrigos provisórios dos marcadores serão transformados em pequenos nichos, que offereceram completa segurança. Toda pintada externa e internamente com as cores nacionaes, tem ao alto do para-balas, expressiva inscripção: – Aqui aprende-se a defender a patria! – A sua concepção bem como a sua execução são devidos ao presidente da sociedade, 1º tenente João Gualberto.”, publicou o jornal Diário da Tarde, de 07/09/1909.
Nas semanas seguintes à criação da Sociedade de Tiro Rio Branco, João Gualberto enviou documentação da Sociedade à “Confederação do Tiro Brazileiro” para torná-la uma unidade de “Tiro de Guerra” conforme a lei. No dia 17/08/1909, a Sociedade recebeu o número 19, passando a ser conhecida desde então também como Tiro de Guerra 19. Durante sua existência foi ainda chamada de Sociedade de Tiro Rio Branco, Tiro Rio Branco, Tiro de Guerra 19 Rio Branco.
Tal acontecimento foi amplamente comemorado pelos curitibanos. Em 23/08/1909, o Diário da Tarde registrava: “Teve a sua festividade simples, porem expressiva, em a sociedade de Tiro Rio Branco, hoje sob nº 19 da Confederação do Tiro federal, a auspiciosa noticia de seu reconhecimento official. Foi de facto uma conquista! Centenas de sociedades de Tiro hoje espalhadas pelo Paiz inteiro disputam há muito a sua confederação, e poucas no entanto tem sido ate hoje reconhecidas, taes as exigencias impostas pelo Governo Federal. […] Sabbado, ao ser conhecido o telegramma do sr. general Bormann, ao presidente da sociedade, o commandante do 4º Regimento coronel Tristão Araripe, gentilmente mandou a banda de musica do seu regimento a sede da sociedade.”
Em 13/08/1909, o jornal Folha da Tarde informava que até as crianças aderiram ao propósito: “O Batalhão Infantil fez exercicio das 6 às 7 horas da noite, sob a direção do tenente Andrade (…) Foi adoptado um uniforme para esse Batalhão, o qual por simples é portanto de pouco disperdicio e está ao alcançe de todos. Esse fardamento, bem semelhante ao dos praças do exercito, vem despertar na creança um justo amor a beleza do soldado Brasileiro.”
Dois anos antes de criar o Tiro Rio Branco, João Gualberto trabalhava no 2° Regimento de Cavalaria, na Delegacia de Engenharia do Distrito Militar e, com o propósito de dar Guarnição à Curitiba, resolveu criar uma Linha de Tiro nas instalações do Exército situadas nos arrabaldes do Ahú, cuja inauguração ocorreu em maio de 1907. A Linha de Tiro do Ahú foi usada, também, pelo Tiro Rio Branco, desde então e por muitos anos, para treinamento de seus alunos em atividades de tiro de média e longa distâncias.
Onde era a Linha de Tiro do Ahú?
O jornal Diário da Tarde de 03/05/1907 publicou: “Revista militar – O dia de hoje correu esplendente, inundado de sol, com uma temperatura agradabilíssima. Foi completo o êxito da revista militar realisada na linha de tiro do Ahu. Compacta massa popular desde cedo affluia áquele local para aonde á madrugada haviam seguido as forças que deviam tomar parte nas grandes manobras. O aspecto do campo era bizarro e festivo; os toques dos clarins, o rebrilhar das espadas, o troar dos canhões, os vários acampamentos e as innumeras carruagens, – tudo isso offerecia um golpe de vista encantador. Ás 7 horas da manhã teve logar o combate simulado entre os partidos branco e vermelho, este sob o commando do major Bezerra e aquelle commando pelo major Manuel Ignacio Domingues. O partido vermelho compunha-se de alas do 13° de cavallaria, 39° de infantaria e 14° de cavallaria; o partido branco era constituído de alas do 39° de infantaria, 14° de cavallaria e 6° de artilharia. Depois do meio dia teve logar a inauguração da linha de tiro; a essa hora era extraordinária a concorrência do povo.Para darmos uma idéa da aífluencia popular basta dizer que (na cidade) não havia mais nas cocheiras um só carro disponivel, nem cavallos de montaria, assim como bycicletas de aluguel. Foi grande também o numero de pedestres.[…].”
Em alguns excertos de publicações, encontramos que a Linha de Tiro do Ahú distava da sede (em 1907) do 39° Regimento de Infantaria exatos 4.190 metros. Naquele ano a sede do 39° estava instalada no predinho da esquina da Sete de Setembro com Rua Lourenço Pinto (frente à Praça Euphrasio Correia) e, seguindo pelos caminhos antigos em direção ao Juvevê, percorrendo essa distância, chegamos ao início da Av. Anita Garibaldi.
Em outubro de 1909, o Tiro Rio Branco ultimava preparativos, juntamente com a “Confederação do Tiro Brazileiro”, para realizar em Curitiba, na Linha de Tiro do Ahu, o grande concurso de tiro de todas as sociedades do Brazil. O concurso foi realizado entre os dias 15 e 31 de novembro, tendo o Tiro Rio Branco auferido o 2° lugar entre todas as sociedades que participaram, obtido pelo 2° sargento Zulmiro Pichetti.
Desde o início, o Tiro Rio Branco saía repetidamente pelas ruas de Curitiba apresentando à população a disciplina de seus jovens e as habilidades ensinadas, apresentações estas sempre ilustradas com os acordes de sua fanfarra e bandinha. Em 01/11/1909, o jornal Folha da Tarde publicava acerca da “apresentação de uma companhia de atiradores da sociedade de Tiro Rio Branco, que, como sempre, se apresentou com maxima correção. A companhia trabalhou na Praça Santos Andrade, fazendo o completo das evoluções da escola de companhia, em ordem unida, de modo a impressionar agradavelmente a todos os assistentes. Findo o exercicio de evoluções, a companhia fez exercicios de fogo, por descargas a voz do comando, e em seguida marchou pelas ruas centraes da cidade, todos correctos e em bella cadencia. […] A companhia foi commandada pelo 1º Tenente João Gualberto, tendo à frente dos pelotões os 2º Tenentes Andrade e Leonidas.”
Em 23/11/1909, o jornal Diário da Tarde publicava: “A sociedade vae adquirir para o lado do Portão terrenos para a construção de uma linha de tiro de guerra de 500 metros. Na linha de tiro da sede social atiravam até hoje 218 sócios, […]”. Infelizmente não se tem notícia se esse propósito chegou a ser efetivado. Em fins de 1917, encontramos menção da criação de um novo Tiro, chamado “Tiro de Guerra Portão, por iniciativa da comunidade daquele arrabalde, tendo o o sr, Adolpho João Bauer como presidente.
Em 16/12/1909, o Diário da Tarde escreveu: “Os pequenos soldados mostram-se cada vez mais enthusiasmados por esse novo sport tão util quão necessário e de cujo desenvolvimento resultará por certo, em tempos que não vem longe, o nosso completo preparo militar.”
Em 1910, para a comemoração do 88° aniversário da Independência do Brasil, o Tiro de Guerra 19 foi convidado a participar dos festejos no Rio de Janeiro, então Capital do Brasil. A diretoria do Tiro Rio Branco fez ampla divulgação do fato junto à população e reuniu um destacamento de 300 jovens curitibanos para ir ao evento.
A população curitibana compareceu à Estação Ferroviária num verdadeiro frisson para a despedida: “Às 11 horas da manha embarcando todo o batalhão, o trem partiu entre aclamações da enorme multidão que se apinhava e se estendia ao longo da estrada até o Cajuru. […] A patriota e brilhante mocidade paranaense que as estas horas, rumo da capital da União, sulca os verdes mares, enviamos pelo radiogramma do pensamento, a expressão synthetica de todos os nossos fervorosos anhelos: – Feliz viagem!”, publicou o jornal Diário da Tarde de 05/09/1910.
O trabalho e labuta do coronel João Gualberto Gomes de Sá Fillho e seus assistentes produz seus primeiros resultados: Naquele 07/09/1910, o Esquadrão de soldados do Tiro de Guerra Rio Branco, no Rio de Janeiro, conquista o 1° lugar entre todos os Tiros de Guerra do Brasil. Em solenidade realizada na sede do Comando do Exército do Rio de Janeiro, o coronel João Gualberto à frente do grupamento, coloca a Companhia em formação para recebimento de condecoração pela sua brilhante participação nas solenidades de comemoração do aniversário da Independência do Brasil, e recebe as honras e condecorações da conquista.
Uma estatueta de bronze, representando os caçadores, foi o prêmio de primeiro lugar concedido aos paranaenses no concurso promovido pelos jornais fluminenses. Essa competição foi constituída de duas provas. Uma, denominada de militar, na qual avaliou-se: manejo da armas, precisão nas evoluções e marchas, compostura e garbo dos atiradores, uniformidade de movimento dos pelotões, cadência e obediência aos toques de comando. E a outra, com relação ao uniforme, armamento e estética.
No dia seguinte, o jornal Diário da Tarde, em Curitiba, publica a retumbante vitória do Tiro de Guerra 19 Rio Branco, ao vencer o concurso militar entre todos os Tiros de Guerra do Brasil, causando emoção entre os paranaenses: “[…] O jury constituido pela Imprensa para julgar o concurso das sociedades de tiro, foi unanime em dar o primeiro logar ao Tiro Rio Branco. […] Famílias paranaenses, o sr. David Carneiro, senador Generoso Marques e outros choraram de emmoção.”
Naquela ocasião, os jovens curitibanos foram recepcionados no Palácio Itamaraty pelo próprio Barão do Rio Branco. O Diário da Tarde de 13/09/1910, registrou: “Os rapazes cercaram o barão com verdadeira adoração. S. Exc. offereceu-lhes riquissimo – Pro patria – que se achava em seu salões. A recepção durou 3 horas. O barão do Rio Branco, inquirira aos moços e chegando a um rapaz de origem teuta perguntou de sua nacionalidade. Este respondeu: – sou da nação paranaense, senhor Barão. – Todos riram a essa resposta espirithuosa.”
Foi organizada, também, uma recepção no Palácio Monroe, onde os vitoriosos caçadores do Tiro de Guerra 19 Rio Branco e sua diretoria adentraram àquele suntuoso espaço, de grande elegância e distinção, onde compareceram também autoridades e imprensa, cuja festividade foi organizada pelo Centro Paranaense.
Os jovens vitoriosos retornaram ao Paraná no dia 15 de setembro, trazidos pelo Destróier Paraná, que atracou em Paranaguá na manhã daquele dia. O evento foi filmado pelo sr. Annibal Requião no ancoradouro principal do Porto D. Pedro II, abrangendo desde a atracação do navio, a solenidade de entrega da Bandeira do Brasil pelo próprio João Gualberto ao comandante do Destróier Paraná, até o saída dos soldados pelo trapiche do Porto.
Em Curitiba, o trem trazendo os integrantes do Batalhão, chegou às 16:30h da tarde. Agora, uma multidão ainda maior aguardava-os na Estação Ferroviária jubilante com a notícia da vitória de seus conterrâneos. Novamente, a profª Julia Wanderley estava a postos e fotografou as imediações da Estação.
17/06/1912, o Tiro Rio Branco publica informe de haver concluído os trabalhos de reconstrução de sua Linha de Tiro e avisa inauguração das instalações elétricas para iluminação e marcação dos exercícios de tiros à noite. Nota-se que após três anos de atividade, a agremiação ainda não podia usar sua LT à noite por falta de iluminação adequada, o que evidencia falta de recursos, apesar de, benquista no meio social, receber doações e ajudas financeiras, porém insuficientes.
15/07/1912, o Tiro Rio Branco pública no DT: “Exercício dos caçadores na Linha de Tiro da Sociedade e na Linha de Tiro do Ahú […].” O Tiro RB usava diariamente a LInha de Tiro do Ahú para seus exercícios, porém, a diretoria nunca preocupou-se em informar o endereço nos jornais, pois, a cidade ainda pequena, deixava-se que a informação era passada boca-a-boca, uma forma natural de multiplicação da informação.
Em 1912, João Gualberto, até então mentor e principal idealizador do Tiro Rio Branco, assumiu o comando do Regimento de Segurança do Paraná. Poucos meses depois, se tornou Coronel e foi atender o conflito do Contestado, tendo sido morto, durante a Batalha do Irani, em 22 de outubro. A morte de João Gualberto abalou Curitiba e o Tiro de Guerra Rio Branco perdeu seu pilar.
Em 21/11/1912, a população de Curitiba acorre ao centro da cidade em verdadeira comoção para participar do funeral do ilustre herói que tanto se destacou por sua atuação à frente do Tiro de Guerra 19 Rio Branco. A população aglomerou-se pelas ruas onde o cortejo fúnebre passou sendo levado até à Catedral e depois à sede do TG na Rua Alegre esquina com Muricy e, por último, até ao Cemitério Municipal.
Durante anos seguidos, por ocasião dos aniversários da morte do Capitão João Gualberto, no dia 22 de outubro, a diretoria do Tiro Rio Branco, depositou flores e coroas em seu túmulo, homenageando-o por seu fundamental ato como Fundador e Patrono da entidade. Geralmente, o ato era acompanhado de desfile da Companhia, desde a caserna indo pelas ruas do centro até chegar ao Cemitério Municipal de Curitiba.
Em 17/04/1913, o Tiro Rio Branco comunicava à população ter mudado sua sede provisoriamente à Rua XV de Novembro Nº 1. O quê teria ocorrido nas instalações de sua sede à Rua Alegre, para que o Tiro fosse transferido para o novo endereço?
Em 07/06/1913, o Tiro Rio Branco convocava reunião dos associados a ser realizada na sede da Associação dos Empregados no Comércio para tratar da “estabilidade e esforços para que o TRB reencete sua marcha de triunfo”. No mesmo dia, outro anúncio, com palavras de pesar, dizia que o TRB estava passando por grande crise.
Em texto publicado no jornal Diário da Tarde, nos dias seguintes, encontramos a resposta: um incêndio havia destruído as instalações da sua sede. Como a diretoria do Tiro mantinha estreito relacionamento com as autoridades, logo foi providenciado um novo local, em terreno público, também central, em local privilegiado.
Sete meses depois, em 09/01/1914, o Tiro Rio Branco publicava no Diário da Tarde convite aos sócios para se reunirem na “nova sede social no antigo (cinema) Polytheama”, para tratar da reorganização do Batalhão. Ao ocuparem as instalações do antigo cinema e a área do seu entorno, chamada de “Parque do Colyseu Curitibano”, a diretoria do TRB tratou de adequar as amplas instalações para que fosse criada também uma Linha de Tiro no local, o que propiciaria a concentração das atividades em um único local.
O jornal publicou, também, que, naquele dia, ao ocupar as instalações do novo endereço, o TG Rio Branco formou pelotões onde “compareceram 130 caçadores uniformizados e grande número que não puderam formar por falta de uniformes. Depois de realizar algumas evoluções dentro do parque, o tiro desfilou em coluna de esquadras […]. O batalhão, puxado pelas suas excellentes bandas de música, cornetas e tambores, percorreu diversas ruas da cidade, […].”
Em 30/01/1914, o Tiro Rio Branco comunicava aos associados para ” assistirem a inauguração solenne da nova sede da sociedade, a ser realizada no dia 1° de fevereiro.”, (no Parque do Colyseu, onde funcionou o antigo Cine Polytheama), sito na então Rua Aquidaban (atual Emiliano Perneta) esquina com Rua Voluntários da Pátria).
Em 09/02/1914, com o título “A Phenix Paranaense”, o jornal DT publicava a inauguração da nova sede do Tiro Rio Branco, ocorrida em solenidade realizada naquele dia, às 16 horas, “que veio provar aos últimos descrentes que a brava phalange de caçadores coritibanos volte aos áureos tempos […]. As bandas de musica, cornetas e tambores executaram o hymno nacional […]. Em seguida, foi Inaugurada officialmente a linha de tiro, […]. Foi então servido o five-ó-clock-matte, em mesinhas colocadas no galpão fronteiro à sede […]”. Registre-se que o ato de inauguração da Linha de Tiro ali montada foi celebrado com o primeiro tiro sido dado pelo presidente do Estado, Dr Carlos Cavalcanti.
Compareceram a Diretoria, os sócios do Tiro e pessoas gradas: além do presidente do Estado, o general Ferreira Abreu, inspetor da região militar; Dr. Candido de Abreu, prefeito municipal; drs Marins de Camargo, Claudino dos Santos e Ernesto de Oliveira, titulares das pastas de Obras Públicas, do Interior e de Agricultura; almirante José Carlos de Carvalho; Dom João Braga, bispo diocesano; Dr Alencar Guimarães, senador federal; dr Vieira Cavalcanti, chefe de polícia; Drs Affonso de Camargo, Ulysses Vieira, Reynaldo Machado e Jayme Ballão, deputados estaduais e outras autoridades. Famílias Abreu, Westphalen, Pinto Rebello, Rocha, Costa Muniz, Carvalho de Oliveira, Corrêa, Santiago, Machado, Braga, Amaral, Macedo, Leite, Barros, Guimarães, Evangelista e muitas outras.
Em 12/05/1915, por ocasião da visita do general Setembrino à Curitiba, o jornal DT publicava homenagens a serem realizadas no pelo Tiro Rio Branco ao general com apresentação de bandas de música no “grande parque da sociedade, com cinematographo, sendo exhibidas fitas do Batalhão de Tiro.” As homenagens estenderam-se até o dia seguinte, ocasião em que a profª Julia Wanderley esteve na caserna do Tiro Rio Branco e fotografou o batalhão formado preparando-se para sair às ruas do centro da cidade apresentando os novos recrutas daquele ano.
Os textos de jornais de 1915 noticiavam a realização de bailes beneficentes, palestras de literatos e políticos, exposição de cães e outros motivos, no salão social do Tiro Rio Branco (no antigo Parque do Colyseu), como forma de arrecadação de fundos para custeio das despesas da tropa, além da tradicional cobrança de mensalidade de seus sócios, sua principal forma de arrecadação de fundos. Outra forma de arrecadação praticada por eles, era a cobrança de cachês para apresentação de sua bandinha, bastante requisitada em eventos.
Em 13/05/1917, a profª Julia Wanderley aproveitou o feriado e foi à caserna do Tiro Rio Branco para registrar as solenidades de ingresso dos novos alistados no batalhão. Como sempre, presenteou-nos com um excelente registro fotográfico no qual escreveu: “Formatura dos novos aditivos no Tiro Rio Branco, em 13 de Maio de 1917”. O jornal Folha da Tarde daquele dia escreveu: “Os recém-incluidos prestam juramento. […] Compunham estes uma turma de cincoenta jovens que se propõem a exames de reservistas nas duas épocas deste anno. A impressionante solemnidade effectou-se á ora 10, no palco interno do quartel, quando ali se achava o batalhão estendido em linha. O tenente secretario pronunciou em voz alta o seguinte compromisso, repetido pelos neophytos: ‘Desejando fazer parte deste batalhão, alisto-me em suas fileiras, compromettendo-me para isso a cumprir com lealdade o regulamento que rege esta instituição e voltar-me inteiramente ao engrandecimento desta sociedade’. E em seguida, levantando os braços a exemplo dos antigos romanos confirmaram: ‘Sob palavra de honra, juramos ser fieis servidores da patria e devotados atiradores’.”
No domingo à 02/09/1917, o Tiro de Guerra 19 Rio Branco e o Tiro de Guerra 99 (de Paranaguá) viajaram ao Rio de Janeiro a fim de participar de concentração com os demais TGs do país. Iniciado o desfile dos TGs, o TG 99 após ter desfilado seis vezes consecutivas para dar exemplo aos demais, devido sua primorosa disciplina, evolução e garbo, foi destacado pelo general Setembrino de Carvalho, para marchar à frente da 3ª Brigada, como fila-testa, puxando o desfile. Na tarde do Sete de Setembro, perante o Presidente da República, Wnceslau Braz, e demais autoridades reunidas, desfilou a 3ª Brigada, tendo à frente os jovens soldados do Tiro 99, sob delirantes aplausos da multidão. Felizes com as condecorações e honras recebidas, bem como compartilhando a distinção obtida pelos conterrâneos parnanguaras, os integrantes do Tiro de Guerra Rio Branco, desfilaram garbosamente em Curitiba, na Rua XV de Novembro esquina da então Rua 1° de Março (atual Rua Monsenhor Celso).
15/09/1917, o DT publicava: “A Victoria é do Paraná – O batalhão Rio Branco, de novo em terras do Paraná , volta, após um concurso memoravel, triumphante, coberto de glorias, com os louros que essa mocidade altiva soube conquistar para a sua terra. […]”. A conquista do 1° lugar entre todos os Tiros de Guerra do Brasil. Então flores foram espargidas sobre todos os jovens que compunham o pelotão.
No Rio de Janeiro, após a vitória dos paranaenses, além dos cerimoniais organizados pelos militares, houve recepções promovidas pela imprensa e empresários cariocas, estendidas por huma semana, com passeios por diversos pontos turísticos da cidade, entre eles a ida ao Campo dos Affonsos, visita ao Corcovado, sempre regalados com lautos almoços e jantares.
No dia do retorno o batalhão ainda desfilou no centro da cidade e, após, dirigiu-se ao Porto para embarque. O “Caes Mauá” estava repleto de uma multidão de pessoas que foram despedir-se dos jovens paranaenses. Quando o navio “Tapuca” atracou foi realizada uma cerimônia pelo jornal carioca “A Noite”, em homenagem ao atirador vencedor, o soldado Miguel Poplade, que recebeu uma medalha de ouro alusiva e uma taça de prata com menção de honra ao mérito.
A recepção dos moços vitoriosos em Curitiba, foi estrondosa e delirante. A população acorreu à Estação Ferroviária ocupando todo o seu entorno para receber os rapazes, pois os meios de comunicação noticiavam, dia após dia, os acontecimentos que sucederam-se no Rio de Janeiro, desde a gloriosa vitória.
“O aspecto das ruas por onde o batalhão ia desfilar era todo de festas. As fachadas embandeiradas por toda a extensão da rua (Barão do) Rio Branco e 15 de Novembro, assignalava o acontecimetno festivo, […]. Á hora da chegada do trem, nas proximidades da Estação era enorme a massa popular que afrontava o tempo, sem temer a ameaça de grande chuva. A Chegada A Sua Recepção na Gare – Ás 2 horas e um quarto já se achavam na estação o sr. dr. Affonso Camargo, presidente do Estado, com seu ajudante de ordens tenente Euclides do Valle,” […] e grande número de autoridades e pessoas gradas. “Ás 3 horas e meia o trem chegou , em meio a vivas e acclamações, sendo a officialidade cumprimentada pelas autoridades presentes. Com toda a ordem o batalhão desembarcou por companhias , vindo formar na frente da estação.” Do alto da sacada do Hotel Tassi, o dr. Leoncio Correia proferiu eloquente saudação aos caçadores, fortemente aplaudido. Ao entrarem na rua Barão do Rio Branco , os jovens foram aclamados por duas grandes alas de moças que jogavam flores sobre eles. O Tiro desfilou em direção à rua 15 de Novembro, aclamado pela população que perfilava-se em alas pelo caminho, sob aplausos e vivas dados pela população.
O batalhão deteve-se em frente ao Clube Curitibano onde ouviu um discurso proferido pelo dr. Alberto de Abreu Filho que, ao final, ofereceu ao comandante do Tiro uma medalha comemorativa em nome do Clube. Após, o batalhão dirigiu-se ao Cemitério Municipal para depositar flores no tumulto do seu patrono, o coronel João Gualberto. Em seguida dirigiu-se à caserna.
A sede da caserna do Tiro Rio Branco estava ornamentada por uma comissão de associados e comerciantes, de modo a receber condignamente o valoroso batalhão. “Todas as instalações foram adornadas com profusão de flores, palmas verdejantes, bandeiras evocativas […] tudo disposto com encanto e arte, emprestava à caserna um aspecto verdadeiramente festivo. O epílogo da jornada vitoriosa do BRB, será, como no seu início, feito debaixo de uma apotheose triunphal de flores, musicas, sorrisos claros e notas bizarras.”, publicou o jornal Diário da Tarde de 15/09/1917.
O Guia Paranaense de 1917, publicado por Egydio Lambert, publicou em sua página 36: “Tiro Rio Branco – Rua Aquidaban Nr 22. Presidente, Capitão Gasparino Pereira da Silva; Vice – Annibal Guimarães Carneiro. Esta sociedade conta com mais de 800 sócios dos quais 300, estão inscritos nos mais diversos cursos da instrução militar. Mantém também um departamento de escoteiros para jovens de 12 a 18 anos.”. Tais números evidenciavam naquele ano a grande pujança que o Tiro tinha conquistado no meio da sociedade curitibana naqueles dias.
No final de 1917, a formação de outros núcleos de Tiros de Guerra havia se disseminado, tanto em Curitiba como em outras cidades do interior paranaense:
a) “Tiro Ferro-Viario” – Em 10/12/1917, o jornal O Dia publicava informe do Tiro Rio Branco informando que, em 29 de novembro, havia sido criado o Tiro Ferro-Viário, dentro das instalações da Rede Viação Paranå-Santa Catarina, visando atender os moços que trabalhavam na viação férrea, cujo primeiro presidente eleito foi o coronel Wallace de Mello e Silva e o primeiro secretário, sr. Luiz Guimarães.
b) “Tiro do Portão” – O informativo do Tiro Rio Branco, daquele dia, continuava: “Tiro do Portão – A nova aggremiação que tem particularmente prendido a nossa atenção porque é intenso o desejo que temos de ver muito logo um valente nucleo de soldados no pittoresco arrabalde coritibano , vai conseguindo francos successos, como temos registrado. […] Agora foi escolhida sua directoria que fica assim constituída: Presidente, Adolpho João Bauer; vice-presidente, coronel Mathias de Oliveira Mendes; secretario Manoel André da Silva Castro; thezoureiro, Ricar Bodniak; diretor de tiro, tenente Silvino Silveira Lopes; vogaes, Durval Ferreira, Waldemiro Vasconçellos, Antonio Gabardo IV, Pedro Paquete e Francisco Lopes. pretende a directoria tratar de aquisição de material para uniformes e da construcção de um “stand”, contando para isso com a boa vontade do commercio e da população daquelle suburbio.”
c) “Tiro do Ahú” – O mesmo informativo do Tiro Rio Branco, prosseguia: “[…] o franco sucesso do novo Tiro Ahú, já confederado (nº 493). Todas as noites se tem realizado excursões em ordem unida , reinando grande enthusiasmo entre os atiradores. Muitos delles já estão devidamente uniformisados, ostentando com orgulho o n. 493 na gola.”
d) “Linha de Tiro Affonso Camargo” – No dia 07/12/1917, o Tiro Rio Branco publicava no jornal Diário da Tarde a realização de “provas práticas na “Linha de Tiro Affonso Camargo, no Bacachery”.
Como veremos mais adiante, a criação desses novos Tiros de Guerra por parte de outros grupos de trabalho, totalmente autônomos, somados a outros fatores políticos, sociais e econômicos, tiraram a exclusividade do Tiro Rio Branco de promover o alistamento militar dos jovens curitibanos.
Em 07/09/1920, o Batalhão em sua caserna se preparava para o desfile comemorativo do 88° aniversário da Independência do Brasil, tendo a presença do então Presidente (do Estado) Affonso Camargo e algumas auguras autoridades. Um pelotão de bicicletas, sua banda de música, um comando à cavalos, o porta-bandeira, a guarda de honra e os pelotões da Infantaria, posaram com garbo e altivez, seus integrantes desfilaram pela Rua XV de Novembro, na parada militar daquele ano.
Em 09/07/1920, o jornal Diário da Tarde publicava que as instalações da caserna do Tiro Rio Branco, sitas à Rua Aquidaban, seriam demolidas para a construção da Escola Normal, visto o terreno por ele ocupado ser de propriedade do Estado.
Com a demolição das instalações do TRB que haviam no Parque do Colyseu Curitibano, sua sede é reconstruída pelo governo do Estado em meados de 1921, na quadra onde hoje está a sede dos Correios. No relatório apresentado pelo governador Caetano Munhoz da Rocha ao legislativo em 1°/02/1922, relativo aos gastos de 1921, ele cita: “Construcção de muro no terreno situado à rua Quinze de Novembro, entre as ruas João Negrão, Garibaldi (atual Presidente Faria) e Marechal Deodoro, 8:570$700 e da nova séde para o Tiro Rio Branco, nesse local, 11:195$202, com aproveitamento do material da antiga caserna.”
É importante frisar que os esforços do governador Caetano Munhoz da Rocha durante a implantação da sede do TRB no novo endereço, propiciaram também a instalação de uma nova Linha de Tiro naquele ano de 1921, conforme se constata na afirmação do jornal DT, de 11/12/1930, transcrita mais adiante.
Em 1926, os formandos da turma daquele ano posam para foto, devidamente fardados, reunidos no stand da Linha de Tiro que havia sido edificada pelo governador na área da quadra sita entre as Ruas Marechal Deodoro e XV de Novembro, e Ruas João Negrão e Garibaldi (atual Presidente Faria).
Em 01/12/1927, o jornal Diário da Tarde publicava: “Torneio de Tiro, Tiro de Guerra 19 Rio Branco. Mais uma prova de tiro foi levado a effeito no stand da rua João Negrão, no domingo p. findo, a qual transcorreu com todo o brilhantismo possivel. […]”.
Na Revolução de 1930, no dia 6 de outubro, a diretoria do Tiro Rio Branco convocou reservistas e voluntários para a formação de uma força que foi chamada “Batalhão Patriótico João Pessoa”. Homens e mulheres se apresentaram na sede do Tiro de Guerra 19 Rio Branco, cujo número de voluntários ultrapassou a mil. O comando do Batalhão foi entregue ao 1° tenente Hygino de Barros que imediatamente mandou distribuir fardamentos aos “novos soldados”.
A sede do Tiro Rio Branco e sua Linha de Tiro permaneceram instaladas na Rua João Negrão, de 1921 até fins de 1930, quando o governo estadual solicitou a desocupação do terreno para a construção da nova sede dos Correios e Telégrafos.
Em 11/12/1930, o jornal O Estado, publicava informativo citando que o esporte do tiro estava sofrendo a falta de um Stand desde que a Linha de Tiro da Sociedade Rio Branco havia sido desmontada para a construção do prédio dos Correios e Telégrafos e que, desde então, o Tiro de Guerra 19 não mais possuía um local próprio para a prática de tiro. Portanto, esse texto evidencia que o TRB desocupou o terreno dos Correios pouco antes de dezembro de 1930.
No mesmo informativo, o jornal O Estado citava que o Graciosa Country Clube havia autorizado um dos membros do Tiro Rio Branco a construir uma Linha de Tiro em sua sede social, no Bacacheri, e que seria nos mais modernos moldes, com cinco compartimentos. Por fim, citava que, “em breve, os nossos atiradores disporão de um ótimo local para os seus ensaios e competições.”. Ao que parece essa moderna Linha de Tiro prevista para funcionar no Graciosa no final daquele ano de 1930 nunca chegou a ser instalada lá, pois no histórico do Graciosa Country, consta apenas que as primeiras provas de tiro foram realizadas em julho de 1929, num estande improvisado após Carlos Amorety Ozorio ser nomeado Diretor de Tiro.
Ao desocupar a quadra dos Correios, naquele final de 1930, o Tiro Rio Branco foi remanejado para a quadra onde hoje está construído o Teatro Guaíra. Na área do terreno, antes, havia a chácara da Família Torres. O terreno, agora de propriedade do Estado, foi cedido ao Tiro para ali estabelecer sua nova caserna. Nele havia a casa que era dos Torres e mais alguns paióis da família. Nas fotos aéreas da década de 1940, percebe-se que foram acrescentadas mais três pequenas edificações, também feitas de madeira.
Nos anos seguintes, as diretorias do Tiro Rio Branco continuavam a informar a população a oferta de treinamento aos reservistas, a serem realizadas na sede da caserna da entidade, porém descrevendo pequenas modificações no endereço da sede, visto terem sido feitos portões de entrada, em três faces daquela quadra: um pela face com a Praça Santos Andrade, também divulgada como sendo frente pela Universidade do Paraná; outro pela face com a Rua XV de Novembro e outro pela face com a Rua Tibagy, como veremos a seguir:
a) Em 29/03/1939, o jornal Diário da Tarde publicava Edital do “Tiro de Guerra nº 19 – Rio Branco aos candidatos a reservistas, […] , no corrente ano, […], serão atendidos na caserna deste TIRO DE GUERRA, situado á praça ‘Santos Andrade’ […]”.
b) No dia 20/01/1938, o jornal O Estado pública “convite aos sócios do Tiro Rio Branco para comparecerem dia 24 próximo, às 20 horas (8 da noite) na caserna deste T.G. 19, situado em ‘frente á Universidade do Paraná’ […]”.
c) Em 28/10/1942, o TG 19 Rio Branco publicava no Diário da Tarde: ” […] se acha aberta a matrícula para a Escola de Soldados (candidatos a reservistas) turma de 1943 […] informações serão prestadas na sede social à “rua XV de Novembro Nº 1019′ […]”.
d) Em 28/07/1939, o TG 19 Rio Branco publicava no Diário da Tarde edital de convocação dos associados para participarem de Assembléia Geral da instituição na sede social sita à ‘Rua Tibagí’, para eleição do Secretário.
Em 09/05/1938, a diretoria do Tiro ainda lutava para construir no local algo pujante que pudesse sustentar a glória do seu passado tanto ufanizada até então. O diário da Tarde, colocava um pequeno classificado em uma página, quase que implorando: “Brasileiro! dá o teu apoio a obra de ressurgimento do Tiro Rio Branco. Contribuir para as construções do estadium é um dever que nos assiste. Dá o teu donativo, por pequeno que seja, para ser levada avante suas obras.”
Em 30/03/1939, o jornal Diário da Tarde publicava em sua página de anúncios dois classificados com chamamentos da mesma natureza. O primeiro anúncio, colocado acima do outro, em caixa emoldurada, parecia ter intenção de diminuir o de baixo, anunciava: “Escola de Instrução Militar nº 321 do Coritiba Futibol Clube – Candidatos a Reservistas, […] abertas matrículas na Escola de Soldado do Clube […] para candidatos a RESERVISTAS do Exército Nacional, do ano de 1939. […]”.
O segundo anúncio, sem moldura, colocado em baixo do primeiro, dizia: “Tiro de Guerra Nº 19 (Rio Branco) – Candidatos a Reservistas, […] aberta á matrícula de candidatos a reservistas do nosso glorioso exército, no corrente ano, com as mensalidades reduzidas para maior facilidade dos atiradores pobres, e não como a anos anteriores. […]”.
Além da Escola de Soldados do Coritiba F. C., outras entidades foram organizadas com a mesma finalidade, tirando o privilégio do Tiro Rio Branco. Naquele momento restava à entidade evocar o chamamento dos mais pobres, como tentativa de manter-se de pé.
Em 08/05/1940, o jornal Correio do Paraná publicava matéria informando que Sociedade de Cultura Física Jahn, através do seu Presidente, o Capitão João Meister Sobrinho, estava construindo a Linha de Tiro do Bacacheri, além de possuir outra Linha de Tiro na sede central, para revólver e pistola, a curta distância. Além da Sociedade Jahn, outras sociedades mantinham suas Linhas de Tiro com instalações adequadas e de maiores distâncias de tiro, ficando evidente que o Tiro Rio Branco estava isolado em seu propósito de selecionar reservistas, além do fato que as instalações de sua caserna eram relativamente precárias.
Em 24/08/1940, o jornal Diário da Tarde informava a população “realização de Baile promovido pelo Tiro Rio Branco a ocorrer hoje nos salões da Sociedade Visconde do Rio Branco, cuja renda reverterá na construção da caserna da mesma. [..]”. Nota-se que, passados dez anos ocupando o espaço da quadra em frente a
Praça Santos Andrade, o Tiro ainda não havia construído uma caserna adequada.
Ainda do ano de 1940, encontramos uma foto dos reservistas do Tiro Rio Branco daquele ano, posando em frente ao salão da sede da caserna, localizada lá no nobre terreno, em frente à Praça Santos Andrade. As paredes de madeira desgastadas daquela pequena casa da sede, evidenciam que o Tiro estava patinando há dez anos ali, sem ter conseguido construir o pretenso “estadium” ou algo nobre no local.
Em 01/06/1945, o jornal Diário da Tarde publicava edital do TRB convocando seus veteranos, associados e reservistas a participarem de passeata cívica para o dia 06 próximo, para comemoração do 36° aniversário de sua fundação, cujo local de reunião foi na “séde da atual Caserna à Rua 15 de Novembro, esquina da Rua Tibagy.”
Já haviam se passado 36 anos desde a fundação do Tiro Rio Branco e ele ainda não tinha uma sede própria. O magnífico terreno ocupado pelo Tiro, a quadra inteira entre a Praça Santos Andrade e Rua Tibagí, e entre as Ruas XV de Novembro e Amintas de Barros, sediava a caserna dele há 15 anos, porém, de propriedade do Estado, estava cedido ao Tiro Rio Branco em caráter provisório.
A Sociedade Tiro Rio Branco era uma instituição privada, de caráter filantrópico, e tinha iniciado suas atividades voltadas à seleção de reservistas numa época que havia grande contingente de jovens que necessitavam de encaminhamento para sustento de suas vidas. A possibilidade de se engajar em qualquer instituição da segurança pública levava os jovens a buscarem o Tiro como forma de preparação aspirando adesão aos quadros das forças de segurança. O Tiro, por sua vez, cumpria seu papel formando e buscando ajuda junto às autoridades e entre a população mais abastada. Incentivava as pessoas a se tornarem sócios mantenedores, cobrando uma pequena mensalidade e esses passavam a ter direito a frequentar a sede social, as Linhas de Tiro, salão de festas, etc.
As novas diretorias eleitas pelos sócios prosseguiam com o propósito inicial da criação do Tiro, umas mais atuantes, outras menos atuantes; de modo que tais gestões tentavam se ajustar às mudanças políticas e sociais que vinham ocorrendo no seio da sociedade. O Tiro por sua vez, tentava se adaptar realizando campeonatos de esgrima, de corrida, de bola ao cesto (campeão curitibano de 1938) e outros. Convocava os chamados “veteranos” para vestirem sua farda e sair a desfilar em datas cívicas, porém, a cada ano as fileiras eram menores, até que ficaram inexpressivas.
A sociedade e autoridades já não viam sentido naqueles repetitivos desfiles dos jovens saindo vestidos como soldados fardados, marchando ao som de tambores, augurando uma guerra que, graças à Deus, nunca mais aconteceu.
Em 05/12/1951, o jornal Diário da Tarde publicou extensa matéria onde o presidente do Tiro de Guerra Rio Branco 19 descreve o recebimento de uma Intimação abrupta para desocupar o terreno situado na Praça Santos Andrade, a fim de serem iniciadas as obras da construção do Palácio do Museu Paranaense. Rapidamente a Diretoria do TG 19 entrou em contato com o Poder Executivo do Estado tentando demover o governador Moisés Lupion do projeto, apresentando considerações da história do Tiro Rio Branco e sua importância à coletividade. Justificou que o Tiro Rio Branco estava a comemorar seus 40 anos de existência; que vinha andando com cessões de terrenos sempre a títulos precários; que vinha levantando e demolindo barracões que têm lhe servido de sede temporária. Tentou embargar a obra, contudo não obteve sucesso. Por fim aproveitou e pediu a doação de um imóvel ou subvenções que pudessem auxiliar a edificar uma sede definitiva.
Houve uma perseguição implacável perpetuada pelo sr. Lázaro Peixoto Bayer, chefe do S.V.O.P. do governo Lupion contra o Tiro Rio Branco 19. O jornal Diário da Tarde ainda descrevia: “Inimigo declarado do Tiro Rio Branco, que pela sua arrogância e petulância chegou ao ponto de tirar o aparelho telefônico da sociedade […] e entregá-lo a alguém de sua predileção; foi por ele também mandado arrancar um poste de ferro que servia de mastro de bandeira […] e entregou-o ao Departamento dos Correios e Telégrafos; sem ao menos ouvir a Diretoria (do TG) mandou demolir a garage, transportar as telhas e madeiramento adquirido pelo TG para uma construção dentro da área do próprio terreno com frente para a rua Amintas de Barros, alegando que todo o material ali existente éra de propriedade do Estado, e portanto poderia agir a dispor a seu bel prazer. Demoliu o muro que circundava o terreno, cercou-o com tábuas, interditou a séde, deixou sem um portão de entrada como o que já existiu para a rua 15 de novembro, não permitindo Diretoria livre acesso, como também aos sócios e músicos […]”
As justificativas e gestões foram infrutíferas para a permanência do TG na Praça Santos Andrade e, em 15/06/1050, a S.V.O.P. do Paraná informou que a sede do TG poderia ser transferida para um imóvel do Estado, que ficava na rua Marechal Deodoro esquina com Rua Mariano Torres. Era uma edificação velha com paredes internas de madeira em escombros e soalhamento podre, que, durante os dias da tratativa, foi demolido pela municipalidade para endireitar o alinhamento da Av. Marechal Deodoro. Do terreno, sobrou um espaço de 4 metros pela Marechal Deodoro, por 6 metros pela Mariano Torres. A Diretoria do TG então acertou com o Governo do Estado a doação do pequeno terreno e a edificação de um predinho com três pisos. O acordo do Estado não consumou-se como combinado. No local a S.V.O.P. levantou apenas um galpão de madeira, onde foram colocados efígies em bustos, bandeiras, instrumentos musicais, quadros, livros alguns móveis.
Em janeiro de 1952, o Tiro Rio Branco publicava desabafo diante do fato de que estudantes de curso superior podiam entrar nos C.P.O.R. sem passar pela caserna do Tiro: “Bujugas retardados acostumados em ambiente de seleção social. Prejudicam-se mutuamente. Uns não alcançam a cadência intelectual; outros não podem acompanhar a mesma cadência nas marchas e trabalhos de aprendizagem de campo. A diversidade de resistência física e acuidade intelectual forçam a condução até o posto ideal de homogeneidade, que constitue quimera fóra da farda e quando ela acaso for, de nôvo, vestida para atender chamamento da Pátria. Um Tiro Rio Branco em cada grande cidade impediria o esvaziamento de escritórios, balcões, guichês e outros pontos de notável interesse para a grandeza nacional. Substituições difíceis e precárias para os empregadores da indústria, comércio e lavoura, casas bancárias,grêmios e as próprias famílias, quando são arrancados os pulsos fortes, os arrimos de manutenção ou do sustento para uma obrigação que pode ser cumprida na própria sede de suas atividades.[…]”.
Em 08/05/1954, o jornal “O Dia”, em sua edição publicava o texto: “Encerramento das Atividades do Tiro Rio Branco – Esteve ontem em nossa Redação, o prof. dr. Julio Moreira, que gentilmente nos trouxe um convite para a reunião que realizará hoje, dia 8, ás 14 horas, no prédio do Círculo de Estudos Bandeirantes, à rua XV de novembro, onde se cogitarão das deliberações a cessação das atividades do tradicional e glorioso. […]”
Em 14/12/1954, uma nota do jornal DT comunicava: “Arrombamento da sede do Tiro Rio Branco. – […] o delegado Durval Simões encontrou aquele local completamente arrombado sendo que estátuas, armamento do tiro e outros objetos encontravam-se em desordem e alguns quebrados. O fato foi levado ao conhecimento das autoridades para providenciarem a respeito. A referida sede há muito tempo se encontra fechada e por tal fato pode ser suscitado a curiosidade de algum larápio.”
Assim terminou os dias gloriosos do Tiro Rio Branco, também chamado Tiro de Guerra 19 Rio Branco.
Apesar desse triste fim do Tiro Rio Branco, a história de suas grandes realizações no cumprimento de seu maior propósito, tendo passado em suas fileiras milhares de jovens reservistas, está repleta de memórias de seus coadjuvantes, das quais trazemos o depoimento do sr. Paulo Affonso Grötzner, filho do sr. Affonso Grötzner, um dos formandos da turma de 1920:
“Meu pai Affonso Grötzner, cumpriu seu dever militar em 1919. Estava com vinte anos, quando ingressou no ‘Tiro de Guerra 19 (Rio Branco)’ em Curitiba. Por dois anos compareceu aos exercícios e instruções, com bom aproveitamento e no final de 1920 recebeu a sua ‘Carteira de Reservista’. Sempre nos contava com muita satisfação, dos bons tempos da sua vida militar, do companheirismo e das amizades que perduraram por toda vida. Em um arquivo que herdei da minha mãe, entre outros papeis antigos encontrei um envelope com os seus documentos militares e uma preciosa coleção de fotografias da época, que permitem fazer uma retrospectiva resumida das atividades dos ‘Tiros de Guerra’. – Paulo Affonso Grötzner – 01/06/2020)”.
Paulo Grani
AGRADECIMENTOS
Agradecimento especial ao amigo João Lorival Jacobowski, que despendeu preciosa ajuda e tempo na elaboração deste texto e reunião das fotografias. Agradecimento também aos amigos Luis Venske Dyminski, Fernando Fontana, Paulo José Costa, Karin Romanó Santos, Edson dos Santos Silva, Eduardo Eloy Scuissiato e José Wille. Também, a Guilherme Groetzner, que disponibilizou arquivo com documentos e informações do seu avô Affonso Groetzner, relativos ào tempo que foi reservista do Tiro Rio Branco.
Texto de Paulo Grani

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