Memória

Jesus Santiago Moure, o padre cientista

O Padre Jesus Santiago Moure foi um dos grandes pioneiros da pesquisa científica no Paraná e no Brasil. Como diretor do Museu Paranaense, organizou a Divisão de Zoologia, renovando as coleções e adquirindo bibliografia. Na Universidade Federal do Paraná impulsionou a pesquisa. E foi o fundador do Departamento de Zoologia da UFPR, no ano de 1938. Seus trabalhos científicos tiveram reconhecimento internacional. Esta entrevista foi gravada em maio de 1998. E o padre morreu em julho de 2010.

 

José Wille – Seus pais vieram em 1912 para o Brasil…

Padre Jesus Santiago Moure – Eu nasci dois meses depois que eles vieram da Espanha, que estava em guerra com Marrocos. Meu pai tinha sido convocado, mas atravessou o rio Minho, que tem cinco metros, entrou em Portugal e se livrou de ir para a guerra. Em Portugal, foi convidado para fazer parte do pessoal que estava construindo as estações de estradas de ferro no interior do Paraná, e já veio definitivamente para o Brasil. Como ele era fugitivo de guerra, não pôde nunca mais voltar à Espanha.

José Wille – A sua mãe queria ser freira antes do casamento. Isso o influenciou, mais tarde, na escolha da  carreira religiosa?

Padre Jesus Santiago Moure – Não. Minha mãe nos obrigava a ir ao catecismo, a frequentar a missa, seguir os cumprimentos religiosos, era extremamente rigorosa em casa. Mas ela não conseguiu convencer meu pai. Ele só se converteu quando eu me ordenei sacerdote. Voltou a ser uma pessoa muito religiosa, mudou completamente de vida quando me ordenei sacerdote.

José Wille – Como começou o seu interesse pela religião?

Padre Jesus Santiago Moure – Foi um influxo exercido pelos sacerdotes que me rodeavam, padres espanhóis.

José Wille – Em Ribeirão Preto?

Padre Jesus Santiago Moure – Em Ribeirão Preto. Com eles, eu ia muitas vezes às fazendas, ajudava nas missas. Com isso, tive certo convívio com os padres. Quando eu terminei o grupo escolar e depois comecei o científico, eles me ofereceram muitas oportunidades. Eu me entusiasmei e entrei na congregação.

José Wille – O senhor era coroinha?

Padre Jesus Santiago Moure – Era coroinha e fui trazido para Curitiba, ou seja, foi uma mudança total. Naquele tempo, havia uma revolução, precisei de um passaporte para conseguir atravessar Itararé. Houve muitas revoluções continuamente, enquanto o governo ficou no Rio de Janeiro. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas não se entendiam e o Rio Grande do Sul, uma vez de um lado, outra vez de outro, fazia o guarda-costas de longe. Depois das barbaridades do Getúlio Vargas, inclusive acabando com os nossos estados, São Paulo foi o que mais sofreu tremendamente com isso. Era um estado independente, mas foi acachapado nesta ocasião e, com isso, diminuímos o nível do Brasil.

José Wille – Seu pai era ateu. Como ele reagiu à sua decisão de seguir a carreira religiosa?

Padre Jesus Santiago Moure – Uma vez que ele se comprometeu com os padres, que achavam que eu tinha vocação, ele se convenceu. Como bom espanhol, quando diz uma coisa, cumpre as obrigações que tem.

José Wille – Mas o padre ainda provocou seu pai na sua saída para Curitiba. Como foi?

Padre Jesus Santiago Moure – Ele aproveitou para dizer aquelas famosas palavras: “você que não quer um padre em sua casa, vai ter um que começou sua carreira agora”. Depois, ele me contou que, naquela ocasião, ficou com vontade de voltar atrás, mas ele tinha dado sua palavra e seu consentimento. Naquele tempo, o seminário era pago e a família tinha que sustentar o seminarista. Era meio pesado, na época… Meu pai teve altos e baixos na vida.

José Wille – O senhor chegou a Curitiba em 1920. Qual foi sua impressão da cidade?

Padre Jesus Santiago Moure – Curitiba era uma cidade pequena, que estava muito afastada da religião. Tinha um predomínio muito grande de maçonaria e de positivismo, o que dificultava bastante a ação do sacerdócio. Mas, havendo um governador católico, como era o doutor Munhoz da Rocha, e depois um grande secretário, que foi o Lacerda Pinto, isso começou pouco a pouco a tomar outro rumo. E o que temos hoje em Curitiba foi devido à ação naquele tempo dessas pessoas.

José Wille – O interesse científico, mesmo seguindo a carreira de padre, como surgiu?

Padre Jesus Santiago Moure – Começou nos anos de filosofia, porque temos três anos de estudo de Ciências Naturais e de Filosofia Natural. Depois é que vieram 5 anos de Teologia. Durante esses 3 anos, o professor entrava em contato com a natureza, com a matemática, com a física, e me animei muito, gostei muito, achei uma abertura muito grande. Tivemos bons professores espanhóis, que vinham da Espanha para dar estes cursos. De forma que eu aproveitei muito e, ao mesmo tempo, instituía-se naquela época o latim; então, já usávamos o latim como língua normal.

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José Wille – O senhor participou da fundação da Faculdade de Filosofia, que originou a UFPR?

Padre Jesus Santiago Moure – Por exigência do governo, as universidades deveriam ter faculdades de Filosofia. Com o tempo, por volta de 1945, se uniram todas para formar uma universidade. Primeiro, uma universidade particular, que teve um apoio enorme dos irmãos maristas, que era a entidade sustentadora. Nós, muitas vezes, demos aulas sem salário nenhum. Depois, o equipamento de que a gente dispunha era muito pouco. Eu não quis começar o curso imediatamente em 1938, por falta de equipamento científico. Eu exigi que houvesse algum equipamento – “Não vou fazer um discurso sobre anatomia da minhoca, eu quero mostrar minhoca para os estudantes, quero que eles entrem em contato com esses seres”. Só em 1942 nós começamos a lecionar realmente a zoologia.

José Wille – A educação no seminário era muito rigorosa. O senhor aprendia música, diversas línguas… Era uma educação muito diferente da formação de hoje?

Padre Jesus Santiago Moure – Era muito diferente de agora. Você se dedicava única e exclusivamente a sua formação. Agora eles acham que a formação deve envolver não só pessoal, mas social. Essa formação de tipo social exige que o seminarista entre em contato com o povo, exerça certas funções dentro das paróquias. Se eles têm essa distração, é evidente que eles não se dedicam tanto à ciência. Nós, sem poder ler um jornal, uma revista, um livro que não fosse aquilo que tínhamos que estudar, nos dedicávamos muito mais à ciência. Era um sistema muito interessante. Nós tínhamos uma hora de estudo e uma hora de aula, uma de estudo e uma de aula… De noite, ainda tínhamos meia hora de estudo e meia hora de aula sobre coisas místicas, pontos mais elevados de ascetismo pessoal.

José Wille – Com esse rigor todo, o senhor, que era jovem, não sentiu dúvida com relação à vocação religiosa?

Padre Jesus Santiago Moure – Eu não lembro, sinceramente não lembro. Tive minhas dificuldades, é evidente, mas não me lembro de ter pensado em deixar a vida religiosa.

José Wille – Muita gente fala da incompatibilidade entre a  ciência e a fé. O senhor sentia algum problema sendo padre e, ao mesmo tempo, dedicando-se a carreira de  cientista?

Padre Jesus Santiago Moure – Eu procurei compreender isso desde o começo. Sempre tive professores muito bons, principalmente em São Paulo. Fui orientado pelo professor Frederico Lane, de origem espanhola, que introduziu a soja em São Paulo, em Santo Amaro. Essas pessoas contribuíram para que eu começasse a ter uma abertura científica cada vez maior. Depois, ainda tive contato com o grupo de genética de São Paulo, principalmente com o dr. Dreifiso e com o professor Theodosius Dobzhansky. Ficamos muito amigos e, sempre que eu ia aos Estados Unidos, ele fazia questão que eu fosse a sua casa comer um frango assado.

José Wille – Quando a discussão, por exemplo, ia pelos caminhos da evolução, o senhor, dentro da Igreja, encontrava resistência?

Padre Jesus Santiago Moure – Sim, a maior parte era contra. Eles defendiam a Bíblia de uma maneira absoluta, total, não havia interpretação – mesmo, por exemplo, o nosso professor da Sagrada Escritura, ainda vivo, José González, espanhol. Eles defendiam, por exemplo, a existência do fóssil, mas “como o senhor explica o fóssil?” – “Fóssil é uma coisa que Deus criou para a diversão do homem” – explicação feita e não se discutia mais nada.

José Wille – O senhor encontrou momentos de dificuldade dentro da Igreja em função dessa pesquisa, dessas crenças?

Padre Jesus Santiago Moure – Eu fui eliminado completamente do meu exercício dentro da Igreja por um influxo de um dos meus superiores, o arcebispo de Londrina, Dom Geraldo Fernandes. Ele me proibiu, em 1952, de exercer essa função externa da Igreja. Eu fui de muita sorte: como sempre tive vocação de cientista, comecei a trabalhar em tempo integral na ciência. Eu sempre fui um indivíduo que, pelo fato de ter muitas obrigações, sempre dormi pouco, de três a quatro horas por noite, até hoje, aos 85 anos de idade. Eu tenho um aproveitamento muito grande do tempo, do que eu faço, mas a universidade não teve a compreensão, por exemplo, de me fornecer o auxílio de uma secretária. Uma pessoa que é de nível muito bom, e pode dar um impulso grande, deveria ter maiores facilidades, e que as universidades não favorecem. Houve compromissos, mas não foram cumpridos. Continuo sozinho, agora sem visão perfeita, com dificuldades…

José Wille – E como foi o surgimento do interesse pela entomologia, pela zoologia?

Padre Jesus Santiago Moure – Eu fui nomeado professor e tinha que cumprir minha obrigação. E, dentro daquele espírito que tínhamos antigamente, de cumprimento exato do seu dever, sempre me interessei. No início, eu era o único professor de zoologia. Então, tinha que dar o curso no 1º, 2º e 3º ano, por separado. Até que tive as primeiras pessoas que me auxiliaram. Um dos primeiros foi o professor Rudolf Bruno Lang. Depois que ele saiu da UFPR, foi para a Universidade Católica. Hoje, ele deve estar aposentado, pois está beirando os 75 anos. Outro professor com quem eu trabalhei muito foi o professor Augusto Stelfeld, da farmácia Stelfeld. Era professor de botânica e mantinha uma pequena revista, a famosa “Tribuna Farmacêutica”. Foram indivíduos que realmente procuraram fazer avançar o Paraná. Procurei, dentro da minha especialidade de insetos, aperfeiçoar-me com auxílio do pessoal de São Paulo, principalmente do Museu Paulista. O professor Frederico Lane me auxiliou bastante, escrevemos alguns trabalhos juntos e, dessa maneira, pude deslanchar por minha conta. Comecei a fazer a biblioteca, porque ninguém descobre o Mediterrâneo pela segunda vez, é preciso saber o que foi feito antes. Eu noto que hoje há um falta tremenda de literatura em todas as universidades brasileiras.

José Wille – O senhor consertava rádios e até os construía… Era uma forma de conseguir recursos para aplicar em suas pesquisas, já que não existia verba na universidade?

Padre Jesus Santiago Moure – Para comprar o meu primeiro microscópio foi dessa maneira! Eu gostava de eletrônica. Tanto que, quando fui registrado como reservista de terceira categoria, puseram lá que eu era especialista em rádio, dizendo que poderia auxiliar nesse aspecto. Voltando atrás, eu me interessei muito por esse desenvolvimento, porque eu achava que não podíamos ficar atrás de outros. Então, nessa ocasião, foi conseguido pelo dr. José Rodrigues Fernandes um contrato entre o estado e a universidade, que passou o Museu Paranaense, que era do estado – um depositório de coisas velhas – a ser uma coisa ativa.

José Wille – O senhor se dedicou a isso até virar um museu?

Padre Jesus Santiago Moure – Dediquei-me! Cheguei a ser diretor do museu. Mas, em 1956, quando fui para os Estados Unidos como professor visitante da Universidade de Kansas, as coisas mudaram, porque fiquei dois anos fora. Durante este tempo, houve influxos políticos para ter vencimentos maiores e essas coisas, porque nós não recebíamos nada no museu como diretor. Eu fui do museu de 1938 até 1956 sem receber um tostão como diretor ou como chefe do departamento de zoologia. Quem recebia eram os pequenos funcionários. E através do convênio entre a universidade e o estado é que fazíamos as coisas. Eu consegui fazer a biblioteca do Museu Paranaense, com uma parte da verba da universidade, que depois foi gasta por um diretor que não tinha noção das coisas. Então, eu tive que aplicar dinheiro do estado para comprar uma porção de coisas, que hoje estão no estado, sem a utilidade que teriam se estivessem na universidade. Mesmo assim, eu fiz a melhor biblioteca que existe, depois de São Paulo e do Rio, de ciências naturais e, principalmente, de entomologia, que era meu interesse particular. No princípio, a minha literatura era feita toda em São Paulo. Eu pedia emprestado um livro no museu, levava para casa, copiava a literatura toda. Cheguei a fazer cópias de montes de páginas.

José Wille – O senhor datilografava?

Padre Jesus Santiago Moure – Sim, para ter essa literatura que era necessária para eu poder trabalhar. Depois, eu comecei a comprar os livros que substituíram essa literatura. Agora, eles têm essa livraria, mas não foi continuada, não teve continuidade. Nós não temos verba para manter uma pesquisa de livros.

José Wille – O senhor esteve na Europa e nos Estados Unidos várias vezes a convite de universidades americanas… Por que decidiu retornar ao Brasil, sendo que o senhor poderia fazer carreira com maior potencial de pesquisa e de publicações por lá?

Padre Jesus Santiago Moure – Foi o seguinte: o pessoal da Rockfeller insistiu para que eu voltasse. Naquela época, acho que havia 80 professores para 60 estudantes, e eu era mais um professor dentro da universidade.

José Wille – Mas teria possibilidade de publicar fora muito mais do que publicou aqui…

Padre Jesus Santiago Moure – Muito mais! O ambiente universitário é outro, é completamente diferente daqui. É como eu vejo na Alemanha: o desenvolvimento é outro. Há uma compreensão muito maior da necessidade da ciência e da tecnologia para avançar. Existe uma piada: o Brasil exporta um navio de soja para depois comprar um chip desse tamanho no Chile. Porque o Chile é, dentro da América Latina, um dos que mais está se desenvolvendo cientificamente na parte de eletrônica. Nós não conseguimos fazer nada de mais positivo. A Argentina desenvolveu energia atômica muito antes de nós, sendo que tem uma população inferior à população de São Paulo.

José Wille –  Sua área, a Entomologia é o estudo dos insetos. Tem importância pelo aspecto ecológico.

Padre Jesus Santiago Moure – Ecológico e evolutivo. São as duas coisas que eu persegui por toda minha vida, ou seja, eu posso ver mais claramente a evolução em insetos do que em seres maiores. A evolução pode ser muito mais rápida, a reprodução dos insetos não leva 25 anos, como no caso do homem ou de outros seres maiores, que leva sempre bastante tempo. A reprodução de insetos nós temos em 15, 20 dias. Pode-se fazer uma série de experiências, pois o desenvolvimento é muito mais rápido que na espécie humana. Então, eu procuro, dentro do meu estudo, quais são os insetos relacionados entre si. Particularmente, eu, de um modo especial, me dediquei às abelhas. Hoje, sou reconhecido no mundo inteiro, tenho quase 200 trabalhos publicados nesse assunto. Isso o pessoal ignora completamente, não leva em consideração.

José Wille – Na entomologia, há muito a se fazer ainda no Brasil? Muito a ser catalogado?

Padre Jesus Santiago Moure – De um modo geral… Houve uma reunião na semana passada no Rio de Janeiro sobre o que fazer com os nossos museus. O Museu Nacional do Rio de Janeiro é um museu abandonado, não tem condições. O de São Paulo está um pouco mais desenvolvido, mas também não tem cobertura total e completa para que o pessoal se desenvolva. Trabalhei na Smithsonian, no Museu Nacional dos Estados Unidos, onde publiquei 2 livros. E isso a gente faz lá, porque tem ambiente, tem meios, tem auxílio e compreensão. Aqui, não há compreensão para uma coisa destas. Depois, há muita luta individual, indivíduos que, através de favores políticos e favores de amizade, conseguem fazer coisas que uma pessoa que rejeita a situação atual não consegue. Tudo isto, evidentemente, me prejudicou. E passei muito tempo fazendo coisas que não eram propriamente relacionadas à pesquisa, mas para a melhoria do nível universitário.

José Wille – Falando ainda de suas pesquisas sobre as abelhas. Temos a ação do homem, trazendo outras espécies de fora. Como o senhor acompanhou essa interferência?

Padre Jesus Santiago Moure – Eu acompanhei, porque quem introduziu as abelhas ao Brasil foi o dr. Warwick Kerr, da Universidade de São Paulo, de cuja banca eu participei, dando-lhe o título de doutor, e o dr. Paulo Nogueira Neto, que está recebendo hoje do príncipe Felipe uma comenda especial pelo fato de ele ter sido diretor da SEMA, que instituiu as primeiras estações ecológicas do Brasil. Ele trabalhou durante uns 10 ou 12 anos nisso e fez muito pelo Brasil nesse sentido. Uma pessoa extremamente rica, que poderia estar levando sua vida calmamente, mas que se dedicou a isso. E vi como é terrível isso… Um dia, estive com ele em Brasília, tinha chegado de manhã da Suíça e, de tarde, embarcou para a Suécia. Veio aqui só para assinar uns papéis, pois, se não tivesse sua assinatura, a coisa não andava.

José Wille – De que forma as espécies que vieram para cá, influenciaram as espécies brasileiras?

Padre Jesus Santiago Moure – Não influi propriamente. A espécie africana encontrou um ambiente de desenvolvimento fantástico aqui na América do Sul, porque a nossa riqueza de plantas é muito maior que na África. Essas abelhas são originárias da Europa, mas, com a formação do deserto do Saara, de 18.000 a 20.000 anos, nesse isolamento completo, já não houve cruzamento possível e se desenvolveram raças de acordo com os lugares. E a África é o lugar onde existe o maior número de raças de abelhas. Por isso, o dr. Kerr foi à procura de raças que já estavam adaptadas a climas tropicais, e, quando as trouxe, as abelhas imediatamente invadiram toda a América do Sul e, atualmente, já chegaram aos Estados Unidos. E a produção delas é muito maior e muito mais eficiente do que a das abelhas europeias.

José Wille – Não significou uma perda, um risco?

Padre Jesus Santiago Moure – Não, significou um ganho. Desde que a pessoa saiba tratar com elas. Houve risco antigamente, agora não existe. Há muita discussão em volta desse aspecto genético, mas o dr. Kerr recomenda de 30 a 40 colmeias nas quais o apicultor estude o comportamento das abelhas. Se começam a nascer abelhas muito agressivas, a primeira coisa que se deve fazer é matar a rainha. Matando a rainha, acaba a produção. A vida da abelha é curta, 45 dias mais ou menos. A rainha, não – ela pode viver até dois anos; aqui no Brasil não chega a tanto. Então, elimina-se a rainha, que é a produtora, que põe os ovos, 500 por dia… Pois a rainha da Apis não perde a capacidade de sair, voar e fundar outra colônia. Houve um inglês que acompanhou isso quando se fez a Transamazônica. Ele notou que o progresso da abelha é ao redor de 140 quilômetros por ano. A abelha se dirige por raios polarizados e, portanto, a Mata Amazônica seria um impedimento para ela. Mas, tendo uma área aberta, há possibilidade de ela se desenvolver nestas áreas. Ninguém a segura, com essa sua capacidade de voo.

José Wille – Que contribuição representa este estudo, que o senhor desenvolveu, para a ciência e para a pesquisa?

Padre Jesus Santiago Moure – Para a ciência, eu estou procurando pôr em dia o que se fez, porque nós somos estudados pelos estrangeiros. É diferente dos EUA, que, desde o princípio, talvez devido a sua origem inglesa, já começaram a se dedicar à ciência. Acharam que a ciência era uma coisa importante e começaram os estudos, descobriram fósseis, enfim… Aqui no Brasil não se fez absolutamente nada disso, a política dominou sobre a ciência. Isso prejudicou completamente o nosso desenvolvimento, porque não foi política no sentido de “p” maiúsculo, foi uma política muito baixa de perseguição, como ainda, em grande parte, existe atualmente. Veja como estamos sendo penalizados para manter o negócio do Real: ontem, por acaso, peguei uma “coisinha” que eu tinha comprado em 1994 e vi o preço que paguei por aquilo, 9.280 cruzeiros naquele tempo! Então, um absurdo completo, total! O Times disse uma vez que seria insuficiente sua página para dizer quanto a moeda brasileira desvalorizou durante estes últimos 20 anos.

José Wille – Essa política está presente na pesquisa, na ciência, na universidade brasileira? Ela também traz prejuízo?

Padre Jesus Santiago Moure – Como está em todas as partes do mundo. Nunca se deve desprezar o aspecto científico. Eu via, por exemplo, na Smithsonian como alguns senadores vinham buscar assessoria dos pesquisadores dentro do instituto, ou seja, eles tinham que falar sobre determinado assunto que não entendiam, iam lá e o indivíduo preparava o dossiê para eles. Aqui, não há absolutamente nada disso, o camarada continua falando e pensando que sabe, sendo que é de uma ignorância…

José Wille – Para a entomologia, uma coisa positiva do Brasil é a diversidade, considerada uma das maiores.

Padre Jesus Santiago Moure – Uma das maiores diversidades do mundo! Por exemplo, um estudo feito pelo dr. Carlos Alberto Seabra, do Rio de Janeiro, que é um médico, agora já com 81 anos: durante 50 anos, ele fez coletas regulares no Cristo do Corcovado, desde quando foi instalado lá. A fauna que ele obteve de um determinado grupo de animais, cortadores de madeira, ali em cima no Cristo, ali batendo no Cristo e caindo no chão, é maior que a fauna dos Estados Unidos e Canadá juntos.

José Wille – Há muito a se fazer, catalogar e estudar…

Padre Jesus Santiago Moure – Sim. E depois estudar o porquê de tudo isso. A cobertura não pode ser só do indivíduo que faz abelhas, tem que ser dos outros indivíduos. Por exemplo, na última reunião da Academia Brasileira de Ciências que houve em São Paulo, para comemorar os 80 anos de fundação, eu falei muito claramente que nós não temos, mesmo dentro da Academia, uma política científica para estimular o governo a entender que ciência é muito mais importante que outras coisas que se fazem aqui nesse país. Mas não há jeito, isso é muito difícil.

José Wille – Que importância tem os insetos na ecologia,  na reprodução vegetal?

Padre Jesus Santiago Moure – Em tudo. Os insetos, entre os animais, é o grupo maior. Os inscritos já passam de 1 milhão de espécies diferentes, enquanto que os mamíferos são poucos, as aves são poucas – 3 mil, 4 mil – tudo para baixo de 10 mil, em geral. Os insetos passam de 1 milhão, ou seja, a diversificação que ocorreu entre os insetos é uma coisa simplesmente fantástica.

José Wille – E o estudo dos insetos serve também para combatê-los, quando se tornam uma praga.

Padre Jesus Santiago Moure – Aí há dois aspectos. Nós temos os combates de ordem química e os combates de ordem biológica. Porque há insetos inimigos de outros insetos, que vivem deles. Por exemplo, está sendo feito um estudo de um inseto que ataca a nossa erva-mate e foi descoberto outro inseto que enfia os ovos dentro da larva e não a deixa se desenvolver. Nós teremos com o tempo provavelmente a possibilidade de produzir esses bichos em quantidade.

José Wille – É o controle biológico?

Padre Jesus Santiago Moure – Nós não teríamos que entrar em partes químicas para controlar a vida desses insetos. Isso é muito importante. Por exemplo, a grande descoberta de aproveitar as larvas que morriam da borboleta que ataca a soja e fazer uma mistura com água, de tal maneira que aqueles protozoários fossem remultiplicados e, com isso, se fazer irrigação. Ao invés de fazer irrigação da planta com inseticida, fazê-la com esses micróbios.

José Wille – Que significa economia e sem degradar ainda mais a natureza.

Padre Jesus Santiago Moure – E, além disso, uma coisa extremamente específica. Porque a larva da borboleta, ao comer a folha, automaticamente absorve esses seres que vão depois prejudicar sua própria vida.

José Wille – Quando o homem age sobre a natureza e derruba uma floresta para plantar alguma  cultura, ele também está interferindo nos insetos e nas pragas.

Padre Jesus Santiago Moure – Não só nos insetos, ele está interferindo na sua própria vida e gasta seu dinheiro na Europa, em outros lugares. O Brasil está se autodestruindo em favor de umas poucas pessoas que plantam soja. Agora, nós estamos vendendo madeira, começou já uma primeira licença de exportação legalizada, ou seja, nós vamos começar a destruir as nossas florestas em favor de quê? Do pouco dinheiro que se ganha.

José Wille – Como o senhor vê a situação da pesquisa hoje no Brasil?

Padre Jesus Santiago Moure – Por enquanto, a gente está se favorecendo ao máximo. O Conselho Nacional de Pesquisa foi uma grande coisa que se fez no sentido de favorecer as pesquisas. Mas nós estamos sendo cortados no Conselho Nacional de Pesquisa, pois vão cortar bolsa, uma porção de coisas. É verdade que o estudante brasileiro, mandado para estudar no estrangeiro, nos EUA e Europa, trabalha durante quatro, cinco, seis anos com aquele equipamento sofisticado, chega aqui no Brasil e se vê num mato sem cachorro ou sem roupa, não pode fazer nada porque não tem equipamento. Agora, compraram equipamentos excepcionais em Campinas, gastaram quase 1 bilhão de dólares em raios laser, que, quando projetados sobre um líquido, pode-se reconhecer as substâncias ali existentes.

José Wille – O senhor mesmo sofreu dificuldades, como no setor de agrárias, e teve sua pesquisa prejudicada?

Padre Jesus Santiago Moure – O que eu senti mais foi ter nossa revista eliminada. Nós tínhamos uma revista, fundada por Brasílio Figueiredo Machado quando era diretor do instituto de pesquisas da UFPR, chamada Boletim da UFPR. Esse boletim tinha setores e cada setor podia ter o seu grupo. Nós tínhamos o setor de zoologia. Como outros setores não utilizavam as verbas, nós usávamos bem as verbas durante os últimos anos, antes da união das faculdades para formar a Universidade propriamente dita. Antes, as faculdades eram isoladas; então, veio a lei de 1970, que obrigou a universidade a se concentrar. Nessa ocasião, juntou-se o pessoal de agronomia com o pessoal de medicina, fazendo uma força muito grande para não deixar o pessoal de filosofia dominar. Nós perdemos tudo o que tínhamos feito e grande parte foi sufocada pela faculdade.

José Wille – Inclusive com relação ao museu, à biblioteca.

Padre Jesus Santiago Moure – Tudo isso foi prejudicado tremendamente. Nós tivemos um diretor, o dr. Homero Batista de Barros, que nos prejudicou, tirando dinheiro dos cofres para financiar a viagem de um professor à Espanha e a compra de livros. Isso causou muita polêmica. Como eu já tinha assumido compromisso com os locais onde estava fazendo compras, inclusive na Holanda, eu me vi obrigado a lançar mão do dinheiro da universidade para isso.

José Wille – O grupo de pesquisas que o senhor criou tem trabalhos importantes. Qual é a sua avaliação hoje?

Padre Jesus Santiago Moure – Tem uma continuidade de trabalho, que é muito respeitado e conhecido no mundo. Eu sou muito mais conhecido fora do que aqui, muito mais. Tenho tido possibilidades muito grandes devido a isso. A mesma coisa com o professor Bigarella, que ficou afastado da universidade por não serem oferecidos meios para a pesquisa se desenvolver. Não há esse estímulo. Nós tínhamos um Conselho de Pesquisa e não foi para frente. Nós temos a Fundação de Amparo à Pesquisa do Paraná e não foi para frente, até agora. Eu acho que eram 2% da arrecadação do estado. Veja que mundo de dinheiro que teria a pesquisa no Paraná!

José Wille – Aos 70 anos, o senhor teve que se aposentar compulsoriamente da universidade, teve que se afastar.

Padre Jesus Santiago Moure – Perdi meus alunos, que então procuraram outros orientadores, devido à proibição efetiva que havia por lei. Hoje, não sou mais da universidade, fiz 70 anos… Na época, eu dava um curso na universidade do México, aliás, uma universidade fantástica – quando eu estava lá, tinha 345 mil estudantes e 47 mil professores.

José Wille – E, quando retornou, ficou sabendo que estava afastado?

Padre Jesus Santiago Moure – Quando cheguei aqui estava afastado. Nunca liguei para esse negócio de aposentadoria. Eles disseram que, se eu tivesse pedido aposentadoria um dia antes de completar 70 anos, o tratamento seria outro. Mas ninguém me disse nada. Eu não sou da política, nunca me meti em coisa de política. Depois que saiu o Flávio Suplicy, eu me afastei cada vez mais, depois que sofremos perseguição enorme na faculdade, no nosso grupo de ciências biológicas por parte do pessoal que veio de outros setores.

José Wille – E, mesmo aposentado compulsoriamente, o senhor continua indo todos os dias à universidade e prosseguindo com suas pesquisas.

Padre Jesus Santiago Moure – Vou todos os dias. E os meus colegas que fizeram também sua aposentadoria, devido ao temor que houve, anos atrás, eles se aposentaram… Mas todos eles continuam trabalhando. São chamados de professores sêniores. São pessoas que estão ainda com 54, 57 anos e podem dar muito de si, depois do esforço enorme que fizeram durante o período em que foram professores.

José Wille – O senhor também foi um dos pioneiros na pesquisa da biologia marinha na UFPR, que deu origem ao Centro de Estudos do Mar.

Padre Jesus Santiago Moure – Eu dei início, mas, depois, houve uma modificação, sendo que, para a universidade, havia uma oferta muito boa, que era o Forte da Ilha do Mel. Aquilo nos foi oferecido para que fizéssemos lá dentro a estação de biologia marinha, embora fosse patrimônio histórico, Mas, infelizmente, não houve uma concordância entre o Flávio Suplicy e o encarregado do Patrimônio Nacional e, então, não se realizou. Nós continuamos nossas pesquisas, porque são necessárias, pois a maior parte dos animais é marinha, o início da vida é marinho, todos nós dependemos da água. Então, é evidente, sempre fiz muita questão de levar para lá meus alunos. Tínhamos um curso na Semana da Pátria na Ilha do Mel, ou então íamos para um hotel perto de Matinhos e trabalhávamos das 6 da manhã até as 8 da noite.

José Wille – Acompanhando a história da UFPR, houve  queda no nível de pesquisas e dedicação dos professores?

Padre Jesus Santiago Moure – Não. Talvez devido a esse estímulo nas ciências biológicas por parte do grupo de que eu fiz parte. Isso ajudou outros grupos, para não ficarem para trás. E uma das que progrediu mais foi a faculdade de Medicina, porque eles começam os cursos lá juntos conosco – anatomia comparada, citologia, tudo isso é ensinado. Mesmo a faculdade de Agronomia e Veterinária tem alunos que vão lá assistir às nossas aulas. Então, isso tudo estimula esse pessoal. A ciência não é só aquela coisinha aplicada, aquele negócio que dá dinheiro. Há outros interesses envolvidos e a possibilidade de fazer muito mais coisas, desde que você tenha professores que sejam bem formados. Agora, se você tem professores que pegou e pôs ali, aí não vai. E esse nosso sistema de convite a professores é uma coisa completamente errada. Por exemplo, eu fiz uma grande coleção de abelhas, se o meu substituto for um indivíduo que se dedica aos macacos, então todo aquele investimento que a universidade fez ficaria parado, para começar um completamente novo. Se nós tivermos uma diversidade bastante grande e tivermos dinheiro, é verdade que podemos fazer tudo isso, ou seja, o setor de entomologia continuaria, como está continuando hoje, sem ter muito favorecimento. Nós precisamos de mais área e não temos. O Impa tem o mesmo período de fundação, começou sua coleção em 1959 e tem 60, 70 mil insetos. Nós estamos com 4,5 milhões e nós nunca tivemos auxílio de ninguém.

José Wille – Esta é uma das maiores coleções de insetos para pesquisa existentes, que foi criada pelo senhor?

Padre Jesus Santiago Moure – É uma das maiores. Compramos material etc. Já foi espoliada, passaram pesquisadores estrangeiros, pegaram coisas e até hoje não devolveram.

José Wille – O senhor não teme a perda desse material?

Padre Jesus Santiago Moure – Tenho muito medo disso. Coisas minhas foram perdidas dessa maneira. Eu perdi muitos livros, muita gente levou, carregaram coisas que eu obtive por favores a minha pessoa. Eu tinha toda a literatura que era necessária para poder trabalhar na região neotropical – do México até a Patagônia. São mais de 2.700 trabalhos que eu juntei, comprando pedacinhos, tirando fotocópias. É o jeito… Mas a gente forma a bibliografia e o aluno não fica desamparado quando vai estudar. Coisas que outras universidades não têm.

José Wille – Ainda falando um pouco mais sobre o seu trabalho na  Igreja: quando o senhor estava na universidade, também se dedicava a dar aulas nos seminários – física, química, matemática, biologia.

Padre Jesus Santiago Moure – Mas isso foi impedido no ano de 1952 pelo superior local, que me pediu que me afastasse das atividades que eu tinha fora. Eu tinha uma facilidade muito grande de palavra, então fazia pregações muito boas. O pessoal ia assistir e gostava.

José Wille – Na comparação daquele seminário do qual o senhor participava e do existente hoje, o senhor acha também que o nível decaiu?

José Wille – Padre Jesus Santiago Moure – Houve uma queda bastante grande. Foi, sim, prejudicado em parte. Deu-se uma importância muito grande ao aspecto social, ou seja, que o seminarista entre mais em contato com o povo. Coisa que nós não tínhamos, nós tínhamos contato única e exclusivamente com os livros e com nossos professores, mais ninguém.

José Wille – O senhor acha que há realmente uma crise de vocações para a Igreja?

Padre Jesus Santiago Moure – Bom, há um crise devido à diversidade do mundo e à maneira como é levada a religião. Movimentos em que o aspecto social passou a dominar o aspecto científico religioso. Movimento por causa dos pobres. É uma movimentação que prejudica profundamente a sociedade. Eu considero certos movimentos que existem por aí completamente prejudiciais. Não trazem valor nenhum, é apenas promoção de alguns políticos que fazem essa movimentação toda.

José Wille – O senhor acha que a Igreja deve ter ou não essa preocupação social, como no caso do MST?

Padre Jesus Santiago Moure – Tem que ter. Mas não propriamente. Eu, particularmente, sou contra o movimento dos sem-terra. Eles têm prejudicado profundamente o desenvolvimento do Brasil.

José Wille – Por quê?

Padre Jesus Santiago Moure – Porque destroem fazendas, impedem o trabalho normal nas fazendas etc. E não é dando aquele pedacinho de terra que vai se resolver o problema deles. O problema é outro. E esses líderes são pessoas de interesse político muito grande e não propriamente para favorecer os seus colegas.

José Wille – O senhor acha que há uma utilização política do movimento?

Padre Jesus Santiago Moure – Há uma utilização política muito grande.

José Wille – Vamos terminar com uma avaliação de sua participação na história da UFPR, porque o senhor foi um dos primeiros a fazer pesquisa na universidade e também trouxe muita gente.

Padre Jesus Santiago Moure – Trouxe professores estrangeiros que vieram colaborar conosco durante um ano, meio ano. Inclusive o que foi reitor da Universidade de Londres, o professor Richards Skinner, que era muito meu amigo. Eu consegui trazê-lo durante três meses – era especialista em vespas – antes de se tornar reitor. Os mais novos, ao ver o esforço, a dedicação desse pessoal, são influenciados. Meu pessoal sempre quis não ficar atrás. As nossas publicações já devem passar de mil, no setor de zoologia. Se for procurar em outros setores, não se encontra isso.

José Wille – Apesar dos problemas que a UFPR tem, dá para considerar que ela tem um papel muito importante na história do Paraná, na formação de tantas gerações?

Padre Jesus Santiago Moure – É fundamental. Sem ciência não se faz nada. O senhor viu a reação dos jornais devido à queixa por parte dessas montadoras que estão chegando aqui, dizendo que o equipamento feito no Paraná não tem o nível, ou seja, se a precisão é de um centésimo de milímetro, tem que ser de um centésimo de milímetro, não é mais ou menos. Se uma coisa tem que funcionar, tem que funcionar dentro das especificações. E, ao mesmo tempo, há investimentos muito grandes. Vai sair um novo automóvel modelo japonês, que aproveita 45% da gasolina – normalmente, aproveita-se só 12% – e vai ser lançado em dezembro. O motor vai custar 4 mil dólares a mais que o motor normal de um carro. Mas o que é isso? Se você pode andar com um litro de gasolina quase cinco vezes mais! Além de ter menos poluição e tudo mais.

José Wille – Aos 85 anos, qual a sua rotina de estudo e de trabalho, entre o convento e a universidade?

Padre Jesus Santiago Moure – Eu trabalho na universidade durante as horas de expediente normal.

José Wille – O senhor passa o dia todo no setor de Biológicas?

Padre Jesus Santiago Moure – Passo o dia todo na universidade. Tenho minha sala, minha coleção, minha biblioteca. Lá eu atendo. Hoje, por exemplo, eu estava atendendo uma professora do Maranhão. Eles não têm quem reconheça os bichos deles, que estão coletando. Para mim, é uma vantagem reconhecer bichos do Maranhão e, ao mesmo tempo, eles levam os nomes e indicações bibliográficas a serem compradas, a serem completadas…

José Wille – O senhor sai da universidade e vai para o convento à tarde?

Padre Jesus Santiago Moure – Volto para o convento e, depois, em casa, eu tomo o meu jantar às 18h15 e assisto à televisão, até que termina o noticiário da Globo. Então, eu vou para o meu quarto e trabalho até a uma hora da manhã.

 

 

 

 

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