João Mansur, “o rei do gatilho”
Foi com esta manchete acima que o jornal “Tribuna do Paraná” noticiou o tiroteio no apartamento do falecido ex-deputado paranaense, João Mansur. Assaltantes invadiram o prédio em que ele morava, e houve reação. O caso foi em um prédio de um bairro central em Curitiba, na esquina da Itupava com Almirante Tamandaré. Nesta entrevista, gravada em dezembro de 1997, ele contava a história. .
João Mansur começou como vereador em Irati, em 1951. A seguir, foi eleito prefeito. Em 1958, elegeu-se deputado estadual, reelegendo-se sucessivamente por cinco legislaturas. Também presidiu a Assembléia Legislativa e foi governador interino.
José Wille – O senhor escreveu para uma publicação nacional um artigo muito polêmico: uma reflexão sobre o porte de armas. O senhor enfrentou um drama pessoal, com assaltantes que tentaram invadir seu apartamento e o senhor reagiu atirando. Mas o senhor não recomendava, naquele artigo, que as pessoas reagissem da mesma forma.
João Mansur – Não. Sou a favor do porte de arma, que, hoje, está sendo combatido. Não é possível que o cidadão ande desarmado e o bandido ande armado. Só que é preciso que o porte de arma seja dado a pessoas que tenham condições de usá-la. Sou a favor de que a pessoa ande armada, desde que ela prove, através de exames a que foi submetida, que tem condições de usar essa arma de fogo.
– Num bairro central de Curitiba, com toda a segurança, com muitos vizinhos, seu apartamento foi invadido por vários assaltantes. Como foi este momento?
João Mansur – Foi um momento de surpresa, porque eles eram em oito bandidos. Mas eles não subiram todos ao mesmo tempo. Depois que dominaram o porteiro, eles se postaram nos elevadores. Cada empregada que descia, subia com alguns. A minha empregada, que vive comigo há mais de 20 anos, como de costume, às 5 e meia da manhã, trouxe o chimarrão na cama e saiu para comprar cigarro. Aí, subiram dois bandidos com ela. Eu estava deitado, tomando meu chimarrão, quando o primeiro entrou com o revólver e me disse “Vai levantando e vendo tudo o que nós temos de direito”. E eu –“Calma, compadre! Você vai levar tudo o que tem de direito…”. Pus a mão embaixo do travesseiro, para tentar pegar o cabo do revólver. Desde a idade de 13 anos, uso revólver na cinta. Só sai da cinta para ir para baixo do travesseiro.
– O senhor se assustou, mas não se deixou dominar pelo pânico?
João Mansur – De jeito nenhum! E foi a minha sorte! Aí, entrou o segundo, com a empregada presa pelo pescoço, posicionou-se no outro lado da minha cama, também com o revólver, bateu na cabeça dela e disse “Deite aí, senão te mato!”. Ela gritou e este que estava me apontando a arma desviou o olhar para ver o que estava acontecendo. Nesta hora, dei um tiro, acertei na mão dele. A bala atravessou a mão e pegou no peito. Ele derrubou o revólver em cima da minha cama e o outro bandido tentou me acertar com dois tiros perigosos, mas o primeiro tiro que dei foi na cabeça dele.
– Mas o senhor reconhece que correu um grande risco de vida nesse momento?
João Mansur – Ah, sim, sem dúvida nenhuma! Mas, graças a Deus, fui bem-sucedido.
– Os dois morreram?
João Mansur – Um morreu descendo a escada; o outro morreu ao pé da cama.
– Os outros conseguiram fugir?
João Mansur – Os outros, que estavam em outros apartamentos, com o tiro e o barulho, fugiram.
– De qualquer forma o senhor não ficou preocupado, porque poderia haver uma represália?
João Mansur – Passei os primeiros anos muito preocupado e prevenido, porque diziam que eram bandidos que vieram do Rio de Janeiro. Mas, felizmente, não aconteceu nada. Evidentemente que eu ando prevenido, cuido bastante, não facilito. Como se diz, eu não brinco em serviço.
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