O polêmico e divertido Ernani Buchmann.
A primeira vez que ouvi falar de Ernani Buchmann foi nos anos 1990, quando ele defendia uma tese polêmica em um jornal: “O curitibano não tem jeito para o carnaval. E a cidade ganharia mais sendo um refúgio turístico para quem quer ficar longe da agitação”.
Ernani afirmava que a prefeitura de Curitiba tinha gastos sem resultados com os desfiles. E que a imagem de uma capital tranquila, sem a agitação carnavalesca, iria atrair muito mais turistas naqueles dias, por ser algo inédito no País. E depois desta reportagem esta tese reaparecia na mídia a cada período de carnaval, provocando reações revoltadas dos carnavalescos.
Um dos poucos a concordar era o jornalista Ney Hamilton, que já dizia o mesmo, na época. E os dois eram igualmente ofendidos por mensagens de ouvintes revoltados, quando falavam sobre o assunto no rádio.
Na mesma linha o jornalista Luiz Geraldo Mazza, que tem o irmão Mazzinha apaixonado por carnaval, dizia que nesta festa o curitibano ficava “catatônico” e nem conseguia se mexer.
O tempo confirmou a tese de Ernani Buchmann quando a cidade passou a ser um destino turístico pelas inovações criadas por Jaime Lerner. E o carnaval de Curitiba foi ganhando outras formas espontâneas nas ruas, criadas por grupos de jovens. E já estava sumindo progressivamente dos clubes a partir dos anos 1980, migrando para o Litoral, depois que as estradas melhoraram.
Uma pouco conhecida característica de Ernani Buchman ajudaria a entender melhor a sua visão sobre este assunto. Uma vez fomos convidados a falar para estudantes da PUC. Era noite e encontrei o Ernani que também estava perdido no campus, procurando pelo auditório. Foi uma longa caminhada sem rumo em meio aos carros do grande estacionamento, onde ele não perguntava a ninguém sobre o local da palestra. Por isso perguntei se ele tinha timidez. E me surpreendi com a confirmação. Para alguém que tinha tantas atividades simultâneas, não dava para prever a timidez do Ernani.
Eu havia conhecido Ernani Buchmann quando surgiu a antiga Rádio CBN Curitiba 90.1 fm em 2005, onde dirigi o jornalismo por 18 anos. Por ser uma rádio só de notícias, era importante ter convidados que tivessem conhecimento para trazer mais conteúdo. Ernani passou a participar de debates pela facilidade em tratar com fundamento sobre diferentes temas, e pela habilidade de trazer bom humor em seus comentários. Ele sempre criava frases engraçadas para cada situação.
Ernani também passou a ser o nosso convidado frequente no programa “CBN Debate”, que era apresentado aos sábados, espaço que trazia assuntos de interesse geral. Um dos debates que teve mais reações do público foi justamente sobre o aproveitamento do feriado de carnaval para dar prioridade ao turismo em Curitiba. Os integrantes de escolas de samba ficavam sempre furiosos.
Também tive muita convivência com o filho de Ernani: Fábio Buchmann era jovem e procurava uma oportunidade. A primeira missão que dei a ele foi na cobertura dos assuntos da cidade. Fábio saiu para cobrir um acidente e surpreendeu pela forma detalhada como contou ao vivo, pelo celular, o que havia acontecido. Entrevistou também motoristas e testemunhas. Neste primeiro dia ele comprovou o seu potencial e ficou na emissora por muito tempo, apresentando também um dos programas que trazia o resumo do dia, ao final da programação da tarde.
Apesar de ser muito jovem, ele já tinha segurança na apresentação ao microfone, uma atividade que atemorizava os iniciantes. Na emissora Fábio se casou com uma colega repórter, Simone Giacometti, e passou a ter a sua própria família, em uma história que infelizmente foi interrompida.
A perda de um filho é o maior temor dos pais. E Ernani perdeu o filho Fábio Buchmann por motivos de saúde. Do Fábio a lembrança é de um jornalista que gostava muito de música, e que era dedicado ao trabalho e brincalhão com os colegas. E que iniciando jovem, amadureceu nos muitos anos de atividade diária no rádio. Parecido com o pai, Fábio Buchmann também é lembrado por ter sido polêmico e muito divertido.
José Wille