Memória Política

Memórias do ex-ministro Ivo Arzua sobre a política nacional

 

Engenheiro formado pela Universidade Federal do Paraná, Ivo Arzua Pereira foi prefeito de Curitiba por duas vezes. Na primeira, foi eleito no ano de 1962 e governou a cidade até 1966. E logo a seguir foi reconduzido à prefeitura, desta vez em eleição indireta pela Assembleia Legislativa. Ficou no cargo até março de 1967, quando assumiu a função de ministro da Agricultura.

Na Prefeitura de Curitiba, Ivo Arzua foi um dos principais responsáveis pelo Planejamento Urbano da capital. Entrevista gravada em maio de 1997, no projeto Memória Paranaense original, da Rádio CBN e Fundação Inepar. Ivo Arzua morreu em Curitiba, aos 87 anos, em 2012. 

 

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José Wille –  O senhor veio de Palmeira, perto de Curitiba, com 5 anos…

 

Ivo Arzua – Exatamente. De Palmeira, com muita honra!

 

José Wille – Seu pai era comerciante?

 

Ivo Arzua – Sim. Basicamente, os Pereira e os Arzua são de Paranaguá, do litoral, porque descendemos de famílias europeias que vieram para cá – portugueses, espanhóis, austríacos, italianos… E havia aqui aquele surto da erva-mate, que dominou economicamente o estado, e meu pai foi atraído por isso. Inicialmente, foi para Palmeira, com um engenho de erva-mate e, depois, como comerciante de louças e ferragens. Por isso, eu e alguns irmãos nascemos em Palmeira. De lá, vim com 5 anos para Curitiba, onde estou até hoje. E sou cidadão honorário de Curitiba, com muita honra também.

 

José Wille – Foi seu pai quem o estimulou a estudar Engenharia? O senhor fez carreira em diversas funções, mas sempre com base no conhecimento da engenharia.

 

Ivo Arzua – Exatamente. Meu pai foi um dos que me incentivou. José da Silva Pereira era contador e muito ligado aos números. Então, ele, naturalmente, induzia os filhos a darem atenção a números, de saberem lidar com aritmética, matemática… Depois, um irmão mais velho, quando eu já estava adiantado nos estudos, me presenteou com o livro “O Homem que Calculava”, do famoso Malba Tahan. Eu o li, adorei e, então, dali para frente, direcionei a minha vida para a engenharia.

 

José Wille – Nessa atividade, em que momento o senhor passou para a vida pública?

 

Ivo Arzua – Eu, na vida, sempre procurei fazer tudo da melhor maneira possível. Em todas as minhas atividades, procurava conseguir o aperfeiçoamento. Era um perfeccionista, como dizem modernamente. E isto chamou a atenção dos meus chefes. Assim, fui galgando posições no DER – Departamento de Estrada de Rodagens do estado – e tornei-me conhecido como um bom engenheiro. Em função disto, o Bento Munhoz da Rocha Neto precisou que eu fosse ao porto de Paranaguá, para solucionar  vários problemas técnicos. E, como também fui bem neste trabalho, ele me convocou para concluir as obras do centenário do Paraná, a famosa Comissão de Obras do Centenário do Paraná.

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Inauguração do alargamento da Marechal Deodoro em Curitiba nos anos 1960.

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José Wille – Que eram as obras do Centro Cívico e outras da mesma época.

 

Ivo Arzua – Então, tudo isso foi dando nome e prestígio para mim. E, quando houve a eleição para prefeitura de Curitiba, o grande governador Ney Braga e o senador Affonso Camargo Neto me convenceram a ser candidato.

 

José Wille – O senhor tinha fama de ser um engenheiro que resolvia problemas…

 

Ivo Arzua – Sim. Quando havia problema sério, era comigo. Uma espécie de para-raios.

 

José Wille – Quem o senhor acha que teve um papel fundamental para ajudá-lo a chegar à prefeitura?

 

Ivo Arzua – Eu já citei meu pai, meu irmão e citaria também um tio, Eugênio José de Souza, que foi superintendente do porto, secretário da Fazenda, secretário de Viação e Obras Públicas e era muito amigo do Caetano Munhoz da Rocha, o pai do Bento. E o Bento Munhoz da Rocha Neto, claro, um dos grandes nomes do Paraná e do Brasil. O Ney Braga, evidentemente, pois sou amigo e admirador dele. E o Paulo Pimentel, com quem estive há pouco tempo. E outras pessoas, como o Hosken de Novaes, que, mesmo por pouco tempo, foi um grande governador. Assim, politicamente, eu lembraria estes, que me estimularam e aos quais devo muita consideração e amizade.

 

José Wille – Além da carreira pública, o senhor nunca se desligou da Universidade Federal do Paraná, atuando como professor de Engenharia.

 

Ivo Arzua – Exatamente. Nessas ocasiões em que era convocado para outras missões, eu me licenciava da universidade ou, se havia possibilidade, eu exercia ambas simultaneamente, porque no magistério são algumas horas de aulas por semana e não era difícil conciliar essas atribuições. Mas, no Ministério da Agricultura, tive que me licenciar da universidade, porque coube a mim o privilégio de ser o primeiro ministro a mudar o seu ministério para Brasília, que, antes, era no Rio de Janeiro. Recebemos uma convocação do presidente Costa e Silva e havia muita resistência de ir para Brasília. E eu dei o exemplo, pois não podia admitir o Ministério da Agricultura na praia. Então, mobilizei todo o ministério e o levei para Brasília. Mesmo assim, 2 meses ou 3 meses depois, naturalmente, estas pessoas – não sei o que houve lá – querendo me desestimular da mudança, incendiaram o Ministério da Agricultura. Numa noite em Florianópolis, em uma reunião da agricultura do Cone Sul, fui surpreendido com essa notícia, que foi um trauma para mim. Pedi um avião militar e, imediatamente, fui a Brasília. Cheguei lá de madrugada e fui ver o ministério todo destruído, incendiado.

 

José Wille – O senhor suspeita que houve uma reação?

 

Ivo Arzua – Eu suspeito, pois havia inquéritos muito graves nessa área de terras dos índios. Havia inquéritos fantásticos a que me propus a dar seguimento e chegar a uma conclusão. Havia inquéritos graves também sobre o Instituto do Mate. E eu me propus a dar seguimento também a esses inquéritos do Ministério da Agricultura, que não iam para frente, pois envolviam pessoas de certo prestígio. Nunca soubemos bem a origem do incêndio. A perícia disse que foi curto-circuito, mas curto-circuito pode ser criminoso, pode ser provocado. O fato é que eu fui ao presidente Costa e Silva e disse “Vim a Brasília e fico em Brasília, nem que fique em barraca. O senhor me arranje barracas militares que nós ficamos aqui”. E ele conseguiu com o Nestor Jost, presidente do Banco do Brasil que tinha construído o prédio do banco em Brasília, que cedesse metade deste prédio, que estava vazio – uns 8 andares – ao Ministério da Agricultura. Então, ficamos em Brasília. E foi o primeiro ministério a se transferir para lá!

 

José Wille – Voltando um pouco, o senhor foi para a prefeitura. Isso aconteceu por volta de 1962, quando Ney Braga e Affonso Camargo julgaram que o senhor seria o nome de que eles precisavam: uma personalidade que tivesse um perfil técnico. Alguém com uma visão de administrador, para estruturar e planejar a cidade

 

Ivo Arzua – Exatamente. Eles achavam que Curitiba estava precisando, porque o Ney Braga, realmente, deu um novo enfoque à administração pública, rodeando-se de profissionais de várias áreas: Economia, Administração, Engenharia, Medicina… Ele deu muito prestígio às profissões. E é evidente que, na área urbanística, há os engenheiros, de maneira que foi ele quem criou esse espírito de desenvolvimento voltado para a tecnologia, um desenvolvimento racional.

 

José Wille – O senhor teve que enfrentar dois candidatos, um que era apoiado por Lupion – neste período já afastado do governo – e outro pelo prefeito da época, Iberê de Matos. E o senhor não tinha sido ainda político. Como era a campanha naquela?

 

Ivo Arzua – Eram 300, 350 mil habitantes em Curitiba. Mas eu queria prestar homenagem a esses outros dois candidatos, o Carlos Alberto Moro, um grande advogado, um grande nome, e Abílio Ribeiro, um engenheiro. Eu dizia que qualquer um deles seria um bom prefeito de Curitiba. Mas aconteceu uma coisa interessante, e por isso advogo, desde aquela época, o voto distrital. Eu acho que isso vai sanear o ambiente político no Brasil e dar ao povo a oportunidade de autenticidade na eleição de seus candidatos, que o povo conheça o candidato e o candidato conheça o povo. E a minha eleição foi no estilo do voto distrital. Era um corpo a corpo, de casa em casa, de rua em rua. Eu visitei acho que a maioria das casas de Curitiba, os bairros todos e a maioria de suas ruas, conhecendo os problemas in loco.

 

José Wille – O senhor foi de bairro em bairro?

 

Ivo Arzua – Daí nasceu esse planejamento de Curitiba, porque estavam sentindo essa necessidade. Nosso povo é muito franco, muito bom, e quero agradecer a ele, pois tive todo o apoio do povo de Curitiba. Como digo sempre, acho que a missão da vida, a missão verdadeira do homem, é semear sempre coisas boas. Ontem, eu saí de casa cedo, em direção ao centro da cidade, e um cidadão me chamou. Eu olhei e era um antigo amigo meu, de cabelos brancos como eu, que quis me apresentar a mulher dele “Olha, este foi o maior prefeito de Curitiba”. Depois, fui a um almoço de Rotary, onde recebi 3 depoimentos espontâneos que me encheram de orgulho. Um juiz que é aposentado disse “Dr. Ivo, devo ao senhor o meu apartamento. O senhor tirou da falência a Barrichello e terminou aqueles prédios onde havia apartamentos que não saíam”. Depois, o outro me disse ”Dr. Ivo, vim da universidade e o reitor teve uma reunião conosco lá, em um departamento, elogiando muito o senhor, como prefeito, como ministro e tal, e que o senhor está sofrendo injustiças aqui na universidade”. O meu salário de dezembro foi de cento e dezesseis reais…

 

José Wille – E o senhor trabalhou 30 anos pela universidade…

 

Ivo Arzua – Bem mais de 30 anos pela universidade! E houve outro depoimento, também dos cidadãos: “Dr. Ivo, está aqui meu filho, que queria conhecê-lo, pelo seu nome, pela sua fama, pelo seu prestígio, pela sua imagem”. Então, isso tudo me deixa satisfeito. Acho que semeei coisas boas por onde passei e isso me deixa feliz, quando tenho esses testemunhos nas ruas de Curitiba.

 

José Wille – A campanha, naquele tempo, era mais no contato, no comício?

 

Ivo Arzua – Nós, por exemplo, tínhamos um caminhão, que era um palanque ambulante. Íamos aos bairros e fazíamos comícios de cima do caminhão, às vezes 2 ou 3 numa noite. Quando eu chegava, me era dada a palavra e eu me dirigia à população. Os outros candidatos ficavam falando e eu já ia para outros comícios. Então, isso me deu uma mobilidade extraordinária, que pegou de surpresa os outros candidatos. Quer dizer, um palanque móvel! Os outros candidatos, que eram mais populistas, como o do PTB e o do PSD, fizeram comícios no centro da cidade, um na praça Tiradentes e outro na Osório. Eu fiz em todos os bairros de Curitiba nesse palanque móvel. Então, acho que foi um dos fatores de sucesso.

 

José Wille – O senhor foi eleito para a prefeitura e pegou um momento importante da história do Brasil, em 1964. Havia um clima prévio de angústia?

 

Ivo Arzua – Exatamente. Eu assumi a prefeitura e ela estava com uma dívida muito grande. Fazia 3 meses que os funcionários não recebiam. Então, tive uma verdadeira luta para atualizar as receitas da prefeitura, com discussões na Associação Comercial, na Federação das Indústrias, com o Sindicato dos Operários. Para atualizar não o imposto, mas o valor venal da própria propriedade, que não tinha acompanhado a evolução econômica do Brasil. Não tinha recurso! Mas tive o apoio da população e das entidades empresariais. Refizemos o valor venal dos imóveis e, com isto, a arrecadação da prefeitura subiu. Eu pude, então, não só pagar em dia os salários do funcionalismo como aumentá-los. A prefeitura pagava melhor que o governo federal. A prefeitura era um exemplo de administração na parte financeira e, inclusive, na parte de recursos humanos. Houve grandes greves nas prefeituras de Belo Horizonte, Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, porque o pessoal não só não recebia como recebia muito pouco. O salário deles era muito baixo e eles, então, trouxeram esse movimento de greve para Curitiba. Veja o clima de agitação que havia! Fizeram comícios em frente ao gabinete do prefeito, mobilizaram todos os sindicatos de operários. Mas, como aqui o pessoal era muito bem pago e estava recebendo em dia, não tinha uma motivação forte e não foi difícil superar essa greve. O clima no Brasil era este e havia também o clima de destruição da propriedade – incendiavam automóveis na via pública, propriedades eram invadidas, farmácias eram roubadas. Então, o clima era de tensão social.

 

José Wille – Passado esse período, o senhor teve, administrativamente, uma fase mais tranquila, a partir de 1964, no comando da prefeitura?

 

Ivo Arzua – Não, não tive, porque eles não faziam distinção. Com estas obras, enquanto preparávamos o plano da cidade, fizemos uma concorrência e ganhou a Celete. Mas a Celete apresentou um plano preliminar de urbanismo, não o plano definitivo, sujeito a críticas. E nós fizemos um mês do urbanismo, criticamos o plano, debatemos com toda a cidade, inclusive com entidades operárias nos bairros, e partimos então para a obra, porque não podíamos esperar a aprovação do plano, senão a prefeitura iria perder um tempo grande na realização das obras. Nós realizamos as grandes obras de renovação do centro urbano e das grandes avenidas e isso me trouxe preocupações grandes, inclusive fui ameaçado de morte várias vezes, porque, no centro da cidade, desapropriamos cerca de 200 a 300 propriedades.

 

José Wille – O senhor fez o alargamento da Marechal Deodoro em vários trechos e criou outros.

 

Ivo Arzua – Da Marechal Deodoro inteiramente e da Marechal Floriano, entre a praça Carlos Gomes e a Tiradentes. A Cruz Machado foi aberta e alargada, e também a Tobias de Macedo e um trecho da Rua XV, entre a Muricy e a praça Osório.

 

José Wille – Em 1964, o congestionamento não existia,  mas sem estas obras futuramente surgiriam problemas para a cidade.

 

Ivo Arzua – Exatamente! Tínhamos que preparar Curitiba para o futuro, porque o planejamento consiste nisso – prever o futuro. E nós tínhamos que prever, no mínimo, 30 anos do progresso de Curitiba, o que foi feito. Tanto que este plano que está em vigor é da minha gestão, pois, pela lei que foi aprovada, vai até 1999. A Câmara de Vereadores já está se preparando para atualizar e renovar esse plano. Então, apesar da Revolução, o povo sentiu que imperava o sistema democrático na prefeitura. Para aprovar o plano, nós debatemos com o povo e, com as críticas incorporadas, nós o mandamos à Câmara. Nos debates públicos, convocávamos obrigatoriamente três classes: a imprensa, os estudantes e os vereadores. Todos estavam exatamente a par do projeto de elaboração do plano da cidade e criou-se uma consciência curitibana sobre a importância de um plano urbanístico. O povo deu o seu apoio e o plano está aí até hoje.

 

José Wille – Havia a necessidade de alargar essas ruas, mas alguns arquitetos consideram que seria importante a preservação das fachadas históricas, o que não teria acontecido no plano.

 

Ivo Arzua – Não. Exatamente. No plano original, não havia essa preocupação de preservação histórica. Com os debates, incluímos no plano o Setor Histórico de Curitiba. E depois o Greca mandou pintar as casas adequadamente e tal, a praça da Ordem, aquele entorno da Catedral. Aquela região foi declarada setor histórico. Porém, se fôssemos fazer a preservação histórica total, Curitiba ainda seria um campo aberto, cheio de mato, pois não se deixaria mexer em nada. Na Marechal Deodoro, a grande maioria era de construções antiquíssimas, já em estado de ruína, o telhado, as paredes… A poluição urbana era muito grande, era fonte de ratos, de baratas, de tudo que é animal poluidor e a área estava sujeita a contaminação.

 

José Wille – E esse centro da cidade é cortado por alguns rios, e eram comuns, nas cheias, os alagamentos no centro.

 

Ivo Arzua – Exatamente. O Cine Luz, o grande cinema de Curitiba, na praça Zacarias, ia até metade da atual Marechal Deodoro. Antigamente, a Marechal Deodoro dava, se tanto, passagem a um carro de cada vez, pois era estreita. Se fosse um colado no outro, dois carros! Quando ocorriam enchentes, o povo não podia sair do cinema, porque a água cobria os carros, ali na praça Zacarias. Com essas obras, alargamos o Rio Ivo e o canalizamos, desde a Visconde de Nácar até a Carlos Gomes. Com isso, no nosso período, não houve mais enchentes em Curitiba naquele trecho. Quando o Departamento de Obras e Saneamento foi dirigido pelo Omar Sabbag – grande engenheiro, grande professor e meu amigo – fizemos um plano de saneamento para toda a bacia hidrográfica de Curitiba: o Rio Ivo, o Rio Belém, o Pinheirinho…  Depois, eu saí da prefeitura e não sei mais o que aconteceu. Mas, se isso tivesse prosseguido, não teríamos essas enchentes que hoje tem em Curitiba.

 

José Wille – O senhor criou também o IPPUC, um ponto importante para o futuro da cidade, para o planejamento.

 

Ivo Arzua – Claro… Exatamente. Eu notei, como engenheiro e administrador, que o fracasso dos planos era pela falta de continuidade em sua execução. Então, a criação do IPPUC foi para ser o fiscal e defensor e o implementador do plano. De um lado, o defensor do plano, da execução do plano, e, do outro lado, a sua modernização, de acordo com a evolução sociopolítica e econômica. Na Estante Paranista, comemorativo aos 80 anos do Instituto Histórico Geográfico, existe um artigo de minha autoria, “Planejamento Democrático, a História do Planejamento Urbano de Curitiba”, um resumo da história do planejamento urbano da cidade, com todos os nomes das pessoas que nos ajudaram. A partir da minha gestão, a prefeitura construiu os dois primeiros grupos escolares do que seria a rede municipal escolar de primeiro grau. O Papa João XXIII e o Isolda Schmidt foram os dois primeiros grupos onde a prefeitura realmente tinha o magistério – quer dizer, era quadro da prefeitura e ela dirigia esses grupos, do ponto de vista curricular e pedagógico. Antes, ela somente construía os grupos escolares e entregava ao estado, que os administrava. Na parte de saúde, há pouco tempo, fomos homenageados pela Secretaria de Saúde da prefeitura, porque criamos os primeiros postos de saúde nos bairros de Curitiba. Então, isto nos enche de orgulho, pois realmente estávamos pensando no futuro de Curitiba.

 

José Wille – Em 1966, o senhor foi reeleito indiretamente para continuar na prefeitura de Curitiba, no período militar. Mas houve o convite para ir para o Ministério da Agricultura, que teria partido do próprio presidente Costa e Silva.

 

Ivo Arzua – Eu acho que foi do presidente, porque a notícia das obras de planejamento de Curitiba e das obras que estávamos iniciando já tinha corrido o Brasil. Já tinha certo prestígio em relação a este planejamento. Quando Costa e Silva veio a Curitiba a convite de amigos e classes políticas e empresariais, trouxe o Andreazza, que depois foi ministro dos Transportes. Ele percorreu a cidade e ouviu muitas referências boas a meu respeito. Fui convidado, então, para ter uma conversa com o presidente. E aí ele me convidou para o Ministério da Agricultura. Eu lhe disse “Eu não sou fazendeiro, não tenho terras, não sou agrônomo”. E ele respondeu “Não, mas você é um bom planejador e um bom executor”. Ainda assim, achei que havia gente melhor para a área. Na terceira vez em que ele repetiu o convite, não pude recusar, porque ele disse que, se eu não aceitasse, o Paraná não teria ministro. Então, fui para o Ministério da Agricultura em 15 de março de 1967. Mas, cônscio das minhas falhas na área de agricultura, fiquei mais ou menos uns 15 dias aqui na Escola de Agronomia e Veterinária, fazendo uma espécie de cursilho de agricultura. O diretor era meu amigo e conseguiu com os professores a gentileza de que eu ficasse praticamente 24 horas por dia debatendo com eles e ouvindo aulas sobre agricultura, Depois disso, percorri as regiões principais do Paraná, de São Paulo, do Rio Grande do Sul e outras do Brasil, tendo contato direto com os agricultores. Eles reuniam o pessoal em sindicatos de lavradores e cooperativas, e eu ia debater com eles. Quando assumi o cargo de ministro, já levava um esboço de planejamento para a agricultura.

 

José Wille – Um ponto polêmico que marca a sua carreira como ministro: nas reuniões do Conselho de Segurança Nacional, o senhor participou do momento em que se decidiu pelo AI-5, que acabou com as liberdades democráticas e permitiu uma repressão ainda maior.

 

Ivo Arzua – Eu disse, outro dia, num programa de televisão, que as pessoas têm de ser julgadas dentro de sua época. Por exemplo, condena-se muito Roosevelt e Churchill por terem feito aquela aliança com Stalin, o sanguinário ditador russo. Mas eles não tiveram saída. Ou era Hitler ou era Stalin. Para vencer um, eles tinham que se aliar a outro. E preferiram o Stalin. Então, naquela época, não tinha outra solução. Foi o caso do AI-5. Havia o que eles chamavam de guerrilha urbana, havia relatórios secretos dos órgãos de segurança. Outro dia, houve uma entrevista sobre Lamarca, com documentos mostrando que realmente a intenção dos comunistas era tomar o poder pela força. Então, o governo tinha que ter muita força para evitar o domínio comunista. E aí saiu o AI-5, na reunião do ministério. Eu publiquei, em 1978, no jornal “Correio de Notícias”, o artigo “AI-5 –Questão de Consciência”, mostrando qual foi a minha participação. O meu voto foi por escrito e eu dizia que só admitia o AI-5 se fosse de curto prazo, como transição para vencer a guerrilha urbana que estava se manifestando e para preparar uma Constituinte para a nova República, com bases claras e essencialmente democráticas.

 

José Wille – Essas circunstâncias de estar ali e ter assinado – como o senhor sentiu isso a seguir?

 

Ivo Arzua – Acho que o AI-5 foi mal-interpretado, porque acho que o único grande pecado dos governos militares foi esse: de ter assumido, por exemplo, essa parte de condenação política, de julgamento político. Isso deveria ser entregue ao Judiciário. Era a minha opinião particular, como civil participante do governo, que ofensas às leis e a preceitos constitucionais fossem entregues ao Judiciário. Mas prevaleceu o outro ponto de vista e eu fui contrariado na minha posição.

 

José Wille – O senhor viveu dentro do governo militar de Costa e Silva, participando das reuniões até do Conselho de Segurança Nacional. Havia até um pouco de paranoia?

 

Ivo Arzua – Havia, eu acho. Eu admiro muito a classe militar do Brasil, pois, no geral, são pessoas honestas, patriotas, capazes, amam o Brasil até mais que nós civis. Mas, num certo momento desses governos militares, interesses políticos tiveram predominância, usando os militares como fachada. E isto influiu muito, pois os militares são ingênuos para a política, não têm jogo de cintura e, então, se tornaram presas políticas neste jogo.

 

José Wille – Quando terminou o período de Costa e Silva, o senhor acabou saindo junto. Havia um problema de relacionamento com o novo presidente, Emílio Garrastazu Médici?

 

Ivo Arzua – O presidente Costa e Silva foi impedido por motivos de saúde e eu tenho o hábito, na minha vida, de sempre sair com o meu chefe, por consideração. E quanto ao Médici, em que pese ser também um grande militar, um grande homem público do Brasil, eu tive um desentendimento com ele, exatamente em relação à conduta do SNI. Este foi em um debate que tive com ele, juntamente com o presidente Costa e Silva, que achou que eu tinha razão, ficando do meu lado.

 

José Wille – Isso foi ainda durante o governo do presidente Costa e Silva.

 

Ivo Arzua – O motivo principal foi a minha lealdade e admiração ao presidente Costa e Silva. Fui o único ministro que apresentou um pedido de demissão por escrito. Como a Junta Militar não quis aceitá-lo, entreguei ao chefe da Casa Civil o meu pedido de renúncia de ministro da Agricultura.

 

José Wille – Essa situação lhe custou alguma coisa na sequência, por parte do governo militar?

 

Ivo Arzua – Não, eu fiquei totalmente marginalizado, porque é uma atitude que não era usual.  No geral, o usual é a subserviência, a adesão, a continuidade. E nunca houve isso comigo – para você ter ideia: para o presidente Costa e Silva, pedi demissão cinco vezes, sendo que três delas por escrito. Quando eu não concordava com uma decisão que o governo ia tomar, apresentava a demissão, para não prejudicar o governo – “O senhor me demita e, quando aparecer nos jornais a minha demissão, venho agradecer a Vossa Excelência. Saio mais seu amigo do que quando entrei”.

 

José Wille – Surgiram suspeitas, na época, do que teria acontecido quando Costa e Silva ficou doente. Ele era tido como mais moderado, não um militar linha-dura. Como o senhor interpreta este caso?

 

Ivo Arzua – Aconteceu uma coisa muito interessante – histórias que a História não conta. Eu estava me restabelecendo de uma pleuresia, porque, no ministério, me sacrifiquei muito. Saía do ministério à meia-noite ou à uma hora e, às cinco e meia, já estava lá de novo – como também aqui, nas obras do Centro Cívico e na prefeitura. Eu sempre fui assim, sempre me dediquei de corpo e alma. Mas sabia que isso iria estourar em algum lugar do meu corpo. E estourou no pulmão, com a pleuresia. Fiquei doente e, quando houve um congresso agropecuário, que coincidiu com as comemorações do Dia do Soldado, fui a Brasília, contra ordens médicas, e abri o evento. E voltou a febre. O médico do presidente da República me deu ordens para que me recolhesse ao leito e eu não fui à solenidade do Dia do Soldado – uma recepção no Ministério do Exército, em que os militares e o presidente da República receberiam a sociedade civil, ministros de Estado, diplomatas… Enfim, uma grande festa, a qual não pude ir. No dia seguinte, um amigo meu que esteve lá me contou que o Costa e Silva tinha preparado aquela proposta que eu tinha feito de uma nova Constituição e de uma nova República. Só que eles não concordaram com a Constituinte. E o Pedro Aleixo, que é um grande jurista, um grande homem, vice-presidente da República, coordenou esta nova Constituição, de espírito inteiramente democrático, derrogando o AI-5. Acabava com o AI-5 e reabria o Congresso Nacional, na plenitude dos seus poderes. O presidente aprovou e estava disposto a reabrir o Congresso e promulgar a nova Constituição, no dia 7 de setembro de 1969.

 

José Wille – Essa era a intenção do Costa e Silva?

 

Ivo Arzua – Essa era a intenção dele. E, nesta reunião, me contaram que as áreas militares apresentaram uns documentos a ele, dizendo que não concordavam e que não era hora ainda do Brasil retornar à democracia. Isto lhe deu um grande trauma psíquico.  No dia seguinte, começou o derrame que o levou à morte. Porque não deixaram que ele realizasse o seu sonho e a promessa feita a nós do ministério. O voto dele foi mais ou menos dentro das linhas gerais que eu tinha dado: o AI-5 transitório, apenas para vencer a guerra revolucionária e reabrir o Congresso com a plenitude de seus poderes, em uma nova República, com características democráticas. Não o deixaram fazer isso. Então, ele pagou com a sua saúde e com a vida.

 

José Wille – Depois desse período que passou em Brasília, participando do governo Costa e Silva, ao retornar a Curitiba, houve momentos em que o senhor teve que se posicionar politicamente. Em um deles, foi solidário ao comandante de Ponta Grossa, que fez um discurso pelas liberdades democráticas e acabou sendo punido…

 

Ivo Arzua – Exatamente.

 

José Wille – O senhor participou também da Frente de Redemocratização, com Ulysses Guimarães?

 

Ivo Arzua – Exatamente. Sobre os meus princípios democráticos, acho que não pode haver dúvidas. Durante o regime militar, fizemos o Plano de Urbanismo de Curitiba de forma inteiramente democrática, discutindo com toda a população. Em 1974, quando notei que a Aliança Renovadora Nacional estava contrariando aqueles princípios iniciais de redemocratização do Brasil e a tendência era o prolongamento do período de exceção, eu me retirei da Arena, cujo presidente era Accioly Filho. Quando o coronel Tarcísio, comandante do 20º BIB em Ponta Grossa, foi preso por ter feito um pronunciamento pela redemocratização, fui em defesa dele. Ele foi julgado pela Justiça Militar e eu me apresentei voluntariamente para defendê-lo. O advogado dele era o grande René Dotti. E, depois, fui convidado pelo Ulysses Guimarães e pelo Tancredo Neves, dos quais guardo grandes lembranças, a participar da Frente Nacional de Redemocratização. Participei dela e fizemos um grande comício em Curitiba, a portas fechadas, no grande auditório do Colégio Estadual do Paraná, pois foi negada pelo governador do estado da época a licença para um comício público. Lá estava eu, o Teotônio Vilela, o Ulysses Guimarães, o Tancredo Neves e outros próceres democráticos, mas muito reduzidos. Então, dentro do governo militar, a minha posição sempre foi essa: pela democracia, pela redemocratização, enfrentando os poderosos dessa maneira.

 

José Wille – O senhor era amigo de Ney Braga e de Paulo Pimentel, dois ex-governadores. Ney Braga deu oportunidade a Pimentel como secretário de Agricultura, cargo por meio do qual ficou conhecido e que permitiu a ele que se elegesse. Logo depois, desentenderam-se. Como o senhor interpreta essa briga política?

 

Ivo Arzua – Desentendimentos que são normais na política do Brasil. Eu também condeno isso, porque procurei sempre deixar a minha amizade acima dos interesses políticos. Nunca deixei que meus interesses políticos prejudicassem a minha amizade por determinadas pessoas. Mas, dentro dos palácios, dentro da corte, existe esse clima de inveja, de fofocas, de gente que quer se promover junto ao governador e procuram separar as pessoas. Então, atribuo esse desentendimento entre Ney e Paulo, dois grandes amigos meus, dois grandes governadores, a estas fofocas que procuraram atritar os dois. E, infelizmente, parece que tiveram êxito, em parte. Mas acho que hoje os dois se admiram, os dois são amigos. Como eu vi, por exemplo, em um cursilho da cristandade, o Ney abraçar o Moisés Lupion, que eram considerados inimigos de morte…

 

José Wille – …Bem mais tarde!

 

Ivo Arzua – Depois… Bem mais tarde. Então…

 

José Wille – Pimentel passou até por algumas situações que ele atribuiu a represálias de Ney Braga: A Rede Globo que saiu de sua emissora de TV em 76 e a rádio Iguaçu, que teve o registro cancelado em 77, entre outras coisas.

 

Ivo Arzua – Eu não acredito que tenha sido pessoalmente o Ney Braga. Talvez pessoas ligadas ao Ney Braga, usando o seu nome, e também junto ao presidente da República. Interesses econômicos velados, que jogam a política para atingir os seus objetivos. Então, acho que, por trás disso, havia interesses econômicos poderosos, que procuraram mascarar isso com brigas políticas. Mas, na realidade, tenho impressão que, no fundo, no fundo, os dois são amigos e se admiram, porque os dois fizeram muito pelo Paraná.

 

José Wille – Voltando ao Paraná, o senhor foi para a Telepar, indicado por Paulo Pimentel. Os telefones, naquela época, tinham o apelido de mudinhos, pois não funcionavam.

 

Ivo Arzua – Outro dia, fiquei feliz, porque Paulo Pimentel fez um depoimento público numa solenidade, no Dia do Jornalista, em que foi homenageado. Dizia ele que, ao precisar corrigir as falhas da Telepar, procurou alguém como uma agulha no palheiro e encontrou Ivo Arzua. O prédio, hoje Palácio das Telecomunicações, estava comprometido estruturalmente e tivemos que reforçá-lo para ser inaugurado. Depois, construímos a rede, o tronco norte-sul de micro-ondas, com estações repetidoras e de trânsito, nas maiores cidades do Paraná: daqui até Londrina, de Londrina para Jacarezinho, de Londrina para Paranavaí. Todas as grandes cidades do Paraná tiveram, então, as estações de micro-ondas com DDD, discagem direta a distância, e DDI, discagem internacional. Veja bem, Paranaguá, um porto cafeeiro, considerado de segunda classe – sendo Santos o primeiro – teve discagem direta internacional um ano antes de Santos. O Paraná se tornou o primeiro estado em telecomunicações no Brasil, adiante de São Paulo. São Paulo só começou a recuperar esse atraso quase um ano depois. Isto no governo Paulo Pimentel, com a Telepar, criada no governo Ney Braga.

 

José Wille – O senhor voltou a se candidatar novamente em 1985, como vice de Paulo Pimentel. Mas ele não teve uma boa votação, pois havia polarização entre dois candidatos, Lerner e Requião.

 

Ivo Arzua – Eu recebi um documento da Câmara dos Vereadores, assinado pela maioria dos vereadores, para que me candidatasse a prefeito de Curitiba. Mas eu disse a eles “Vou expor vocês ao ridículo, porque sou funcionário aposentado, vivo disso, não tenho recursos financeiros para uma campanha e não aceitaria me submeter a grandes grupos econômicos para ter recursos. Então, escolham outro candidato” – “E se for de vice?” – “Bom, conforme o candidato, eu aceito”. Então indicaram o Paulo Pimentel e eu fui. Mas eu tenho impressão que o Paulo foi vítima de um desses fenômenos políticos que ocorrem em certas épocas em qualquer nação do mundo. Era a vez do PMDB. Não tinha dúvida, o povo queria mudar. Então, fosse o Paulo ou fosse outro candidato, tenho impressão que o candidato que se elegeu…

 

José Wille – Foi Roberto Requião, com apoio de José  Richa, que era governador na época.

 

Ivo Arzua – Exatamente. O Richa iniciou esse fenômeno da reversão, através do PMDB.

 

José Wille – E venceram o Jaime Lerner…

 

Ivo Arzua – Venceram o Lerner! Criou-se uma situação quase que de consciência total a favor do PMDB. Era um rolo compressor! Tenho impressão que qualquer candidato, fosse o Paulo ou fosse eu, seria derrotado, porque a tendência do povo era PMDB. É um dos fenômenos políticos interessantes.

 

José Wille – Mas foi uma diferença bem pequena para o Requião.

 

Ivo Arzua – Sim. O Richa se licenciou por um período, eu não sei se foi por um mês ou dois, e foi pessoalmente às ruas. Então, era dificílimo! O Richa estava com toda a corda, como se diz.

 

José Wille – Com relação à cassação do deputado Aníbal Curi, outro ponto polêmico: o senhor era ministro e Aníbal Curi imaginava que o senhor teria algum papel nessa cassação do nome dele, retirando-o da vida política, naquele ano de 1969.

 

Ivo Arzua – O próprio cunhado do Aníbal Curi, o general Ítalo Conti, deu um depoimento, dizendo “Não, o Ivo não tem nada que ver!”, porque ele conhece como as coisas se processam na área dos órgãos de segurança. Eu era um ministro civil, não era ouvido para essas cassações. Muito antes de eu ser convidado a ministro, estive com Aníbal Curi e com o Rocha Loures, um grande amigo dele também. E eu estava sentindo que havia uma espécie de onda contra a pessoa do Aníbal Curi. Então, sugeri a ele “Aníbal, você se retira um pouco, deixa passar essa onda, depois você volta”. Mas ele, pelo jeito, não me ouviu e depois surgiu essa ideia de que eu… Não tive, tenho consciência, nenhuma cassação no Paraná. O Léo de Almeida Neves, uma grande figura do Paraná, um dia me perguntou “Ivo, como foi minha cassação?”. Daí, eu dei esse depoimento: o ministro civil não era ouvido. Vinha uma relação enorme de todo Brasil e, na maioria das vezes, eu estava viajando. Porque, mais ou menos, as minhas viagens pelo Brasil, como ministro da Agricultura, equivaleram a três ou quatro voltas na Terra – quer dizer, uns 100, 120 mil quilômetros viajei: de avião, em lombo de cavalo, de burro, de tudo. Eu dizia que o ministro da Agricultura não deve ser um piloto de escrivaninha, ele tem de estar lá. Então, eu ia e, quando voltava, essas relações – a maioria – já tinham sido publicadas em Diário Oficial. Mas, por obrigação, tem que constar o nome dos ministros nos atos principais do Conselho de Segurança, do qual eram considerados membros. Mas eu queria, para finalizar, só dizer o seguinte: quando o Aníbal Curi esteve num programa de televisão e perguntaram a opinião dele sobre a minha pessoa, ele disse “Prefiro não comentar”. Eu agradeci a opinião, a atitude elegante dele. Acho que ele tem o direito de ter simpatias ou antipatias por quem quer que seja, como é o meu caso. Mas tenho consciência tranquila, não contribuí um milímetro para a cassação de quem quer que seja no Paraná ou no Brasil.

 

José Wille – Depois disso tudo, dessa vida dentro da política, o senhor teve um período muito longo como provedor da Santa Casa.

 

Ivo Arzua – Exatamente. Dediquei-me durante dez anos, dando minha vida de corpo e alma, como é hábito meu fazer. Entrei na Santa Casa com uma explosão que destruiu a cozinha, o refeitório e parte das enfermarias; quando saí, o Itamar Franco havia decretado estado de calamidade pública na saúde no Brasil. Então, veja, não foi fácil a minha atuação na Santa Casa. Mas lá eu realizei o projeto Santa Casa 2000, que transformou o hospital da Santa Casa em um hospital de Primeiro Mundo. Quando eu saí, deixei dinheiro em caixa, todas as contas em dia, tudo pago. Deixei perfeitamente normalizada a Santa Casa. Era vice-presidente da Confederação Brasileira das Santas Casas, até há pouco tempo. Ainda sou vice-presidente da Confederação Internacional das Santas Casas, que reúne o Brasil, Portugal, Espanha, Itália, França e outros países, e agora, também, alguns do Leste Europeu, do antigo Império Russo.

 

 

 

 

 

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